Obstipação

Escrito por Cátia Reinas

«É fundamental treinarmos o horário de casa de banho, insistindo na nossa autoeducação para tentar o movimento intestinal pelo menos 2 vezes ao dia, 30 minutos após as refeições, e não esforçando mais de 5 minutos»

Tratar a chamada obstipação funcional, ou o “intestino preguiçoso”, não é tarefa trivial, mas pressupõe sempre começar com medidas básicas. Essas medidas compreendem a prática de exercício físico regular e o aumento do consumo de água para cerca de 1,5 a 2 litros diários, por exemplo.

O aumento do consumo de fibras tem grande evidência científica no tratamento da obstipação e recomenda-se ingestão diária de 25 a 30g de fibras. Este valor pode ser facilmente atingido se consumir pão escuro, mistura ou integral, em vez de pão branco, optando por cereais ricos em fibra não açucarados, consumir fruta entre as principais refeições e também como sobremesa, e consumir sopas ricas em legumes e hortaliças ao almoço e ao jantar. Pode-se usar ainda saladas e hortícolas como acompanhamento, optar pela massa e arroz branco integrais e consumir diariamente leguminosas como feijões, ervilhas, grão, favas e lentilhas.

A maior parte das fibras do que comemos não é digerida ou absorvida, por isso permanece no intestino, onde afeta a digestão de outros alimentos e a consistência das fezes.

Podemos distinguir as fibras solúveis das insolúveis: a fibra solúvel é feita de carboidratos que se dissolvem na água, condicionando o tempo de digestão no estômago e no intestino delgado, e tornando assim mais longo o tempo de absorção dos nutrientes. Contêm fibras solúveis a fruta, aveia, cevada, ervilhas e feijões; a fibra insolúvel vem das paredes das células vegetais e não se dissolve na água, condicionando a atividade do intestino grosso, uma vez que é responsável pelo aumento do volume e fluidez das fezes e pelo estímulo da motilidade intestinal. Contêm fibra insolúvel o trigo, centeio e outros grãos. A fibra tradicional, o farelo de trigo, é um tipo de fibra insolúvel.

O uso das fibras pode ser limitado por efeitos adversos, sobretudo com fibras insolúveis, que podem causar inchaço abdominal, flatulência e cólicas. Estes efeitos secundários podem ser diminuídos se se iniciar com baixas doses e se for aumentando progressivamente, de acordo com a tolerabilidade e eficácia.

Existem ainda as fibras dietéticas e laxantes formadores de massa, como o psyllium ou metilcelulose, que, juntamente com a ingestão da quantidade de fluidos adequados, podem melhorar os hábitos intestinais em muitos de nós com obstipação.

Também é muito importante a modificação dos hábitos defecatórios em pessoas obstipadas, por exemplo adotando uma postura em agachamento no momento da defecação, ou seja, apoiar os pés num banco permitindo um aumento do ângulo reto-anal; e tentar esvaziar o intestino todos os dias à mesma hora – como a força motora do intestino é maior após acordar e após uma refeição, o tempo ótimo para a defecação é após o pequeno-almoço. É fundamental treinarmos o horário de casa de banho, insistindo na nossa autoeducação para tentar o movimento intestinal pelo menos 2 vezes ao dia, 30 minutos após as refeições, e não esforçando mais de 5 minutos.

 

Cátia Reinas
Médica interna de Medicina Geral e Familiar na USF “A Ribeirinha”

 

N.R.: A rubrica “ABC Médico” é da responsabilidade do grupo de Internato Médico da ULS da Guarda e pretende aumentar a literacia em saúde na área do distrito da Guarda. O objetivo desta coluna mensal é capacitar a comunidade a fazer parte integrante do seu processo saúde/ doença, motivando-a para comportamentos de vida saudáveis e decisões adequadas. Para tal, são escolhidos temas pertinentes que serão apresentados por ordem alfabética.

Sobre o autor

Cátia Reinas

Leave a Reply