Obsession from

Escrito por Diogo Cabrita

«Há uma série de nevoeiros que chegam primeiro ao nariz e só depois vem a neblina»

Um perfume ou um cheiro de pele, ou um odor forte que nos atrai, tudo são formas de contacto. Há uma série de nevoeiros que chegam primeiro ao nariz e só depois vem a neblina. Também há pessoas que invadem primeiro o espaço pelo odor – nem sempre bom e cheiro é uma forma de racismo quando é peculiarmente desagradável. Há a doença da sensação subjetiva de se ter mau hálito, ou de se ter odor de sovaco, ou perdas involuntárias em lugares inaceitáveis e há sempre o queijo dos pés. Obsessão por cheirar o amor também é interessante. Encostar-lhe o nariz e absorver aquele característico ardor de pele. Há um picante, ou um doce, ou uma hormona que nos toca o nariz quando algumas pessoas chegam perto. Reconhecemos a fragrância com alguma distância e por isso o aroma tem as letras do amor. Um anagrama de aroma seria com amora, que brincamos para perguntar se já namora. Quem tem cheiros lavados tem bálsamos de champô ou cheiro de sabonete, e aquela repetida escolha ao longo dos anos torna-se pessoal. Aquela gente tem fragrância de Boss, ou de Herrera, outros trazem Palmolive ou patchouli. Na memória daquele encontro, na história daquela noite, fica a banda sonora que foram ouvindo e o odor que desprende do cabelo ou da pele. Uma pessoa preenche os sentidos da outra e isso marca uma presença. As obsessões com os cheiros podem envolver negativismo se abstraem da contingência. Há pobres que não cheiram bem porque não conseguem lavar-se. Há quem não se lave porque não gosta. Há zonas quentes onde o suor enruga os bálsamos e apaga os perfumes. Fundamental é ter a cultura suficiente para enquadrar tolerância na diversidade e na circunstância. As pessoas são mais difíceis que os cães, são mais opinativas, têm mais decisões, mais confronto, falam, discutem, transportam espinhos na língua, por isso descartamos mais depressa um cidadão que um animal. Era ótimo se todos cheirassem bem, tivessem bom feitio, fossem cordiais e compreensivos, não adoecessem. A vida não é assim!

Sobre o autor

Diogo Cabrita

Leave a Reply