Um traço comum do populismo que ameaça atualmente os regimes democráticos é, quando os seus líderes chegam ao poder, desconsiderarem as oposições como ilegítimas, parte de um sistema desacreditado (a democracia) que (ao contrário deles próprios) não representam o “povo verdadeiro”. Este é um traço comum ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, no poder há 13 anos, aos ex-presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, ou ao ex-vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini.
É também um traço do presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa. Há dias, quando recebeu uma delegação da concelhia do PS que lhe foi apresentar propostas para o Orçamento municipal de 2024 – uma delegação composta pela vereadora Adelaide Campos, pelo líder da bancada do PS na Assembleia Municipal, Miguel Borges, e pelo presidente da concelhia, António Monteirinho –, Sérgio Costa criticou os socialistas por terem feito uma conferência de imprensa no interior do edifício municipal «sem antes terem obtido a prévia autorização».
Sérgio Costa agiu como se ele, por ter sido eleito presidente da Câmara, tivesse qualquer poder sobre a forma como se podem ou não podem exprimir nos Paços do Concelho vereadores ou deputados municipais de outros partidos. Sérgio Costa assumiu-se como o dono daquela casa da democracia, falando aos jornalistas como se pudesse responder “não” a um pedido de autorização – ou como se tivesse o direito a ser consultado previamente. É evidente que não tem direito nenhum, mas este é o comportamento autoritário típico dos autocratas populistas.
Não foi o único momento em que Sérgio Costa se comportou como o Viktor Orbán da Guarda. Têm-no feito também quando ataca a liberdade de pensamento, de informação e de expressão e tenta abafar críticas, destruindo o pluralismo na vida política do concelho. Quando toma como alvo culpados imaginários, como fez nos incêndios de 2022. Quando se empenha em constranger empresários a não apoiarem certas iniciativas, ou a absterem-se de financiar partidos da oposição. Quando mina a independência dos meios de comunicação social, constrangendo-os por darem voz à oposição e desencorajando a publicidade nos seus espaços.
Perante a ameaça populista que o seu autarca constitui, os atores políticos da Guarda e a sua sociedade civil têm de se mobilizar. É preciso construir um ambiente de resiliência democrática na cidade e no concelho, apontado, criticando e lutando contra os abusos de um populista que, circunstancialmente, chegou ao poder.
* Presidente Conselho Distrital da SEDES Guarda