O vento

Escrito por Diogo Cabrita

Aconteceu no meu sonho quando o vento se libertava em Montemor e arrancava portas e janelas. Pela manhã imaginei que, um dia, na Ucrânia se tinham libertado e fugido uma série de animais de um zoo durante um vendaval. Deitei-me e fui assaltado pelo vento. Batia com força na janela e talvez porque os construtores são miseráveis, talvez porque os pedreiros não são bem formados, as persianas abriram e vi como passavam galhas no andar de cima da casa. Fui ver com a testa encostada no vidro e vi como os caixotes verdes passeavam pela rua.
Duas árvores velhas partiram pelo meio quando a elasticidade de que outrora foram capazes não aguentou a rajada feroz. Lá no fundo da rua dois jovens estacionavam um carro. Foram abalroados por um contentor verde, depois por galhas e ainda escaparam das primeiras telhas que caíam como chuva no alcatrão. Percebi que os dois rapazes olhavam incrédulos para o fundo da rua e não se preocupavam nem com telhas nem com árvores. Bati no vidro para interagir. Uma galha enorme tombou sobre a frente do carro. Os zincos das garagens num prédio à minha frente começaram a dançar antes de se soltarem. Ondulavam de modo perverso. Lá ao fundo, os rapazes metiam-se no carro outra vez. Estavam assustados. Foi então que o vi. Lento, imperturbável, molengão, mas de modo elegante, dirigia-se para o carro dos jovens. Um tigre enorme a passear na minha rua. Era o tigre do zoológico de Montemor. Um bicho enorme fugido do cativeiro após o voo das estacas e dos sistemas de segurança. No telhado do prédio em frente alguns pássaros raros olhavam a cena. No fundo da rua muitas cabras corriam a abrigar-se das rajadas. Passou uma lama. O tigre pisou o carro e olhou a janela do condutor. Rugiu alto. Não sei que lhes disse. Depois saiu em corrida em direção ao monte. O zoo de Montemor tombou num ciclone violento num dia de verão fora de tempo. Acordei às sete horas com o despertador e ainda via a o tigre. Contaram-me depois que voou muita coisa e fugiram animais importantes, mas afinal os tigres não. Que bom!

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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