A minha tristeza despejo-a sobre ti como uma cascata. Entorno-me sobre vós alagando os espaços e as roupas e determinando um destino melancólico e frio. Perto de mim a penumbra, a bruma invisível das noites frias. Eu sou a tragédia grega tornada carne. Eu sou o inferno de Dante em cada respiração e transporto a dor a que me obrigo para incandescer a paciência alheia, a resistência do mais tenaz. Meu nome é melancolia e abraço as felicidades, enterro-me nas couraças dos sorrisos, inflamo cada análise da vida, lacrimejo cada juízo que me dão.
Os meus olhos enevoam-se de sofisticada agonia. Eu sou a Senhora das Dores que vez nas capelas. Eu sou o sofrimento que transparece nas igrejas católicas. Sou o ventre do sofrimento e vou parindo desgraças a cada interação. Tenho em mim o humor bilioso, a corcunda do Nostradamus, a pureza das lágrimas do luto, a implacável angústia dos sós. Eu tenho o convívio com a desgraça. Enrolo-me nas negativas apreciações de tudo como se fosse um agasalho. Não sei porque o faço, mas na verdade nunca fiz de outro modo. Eu sou realmente um chato.
O triste chato
“Tenho em mim o humor bilioso, a corcunda do Nostradamus, a pureza das lágrimas do luto, a implacável angústia dos sós. Eu tenho o convívio com a desgraça. Enrolo-me nas negativas apreciações de tudo como se fosse um agasalho. Não sei porque o faço, mas na verdade nunca fiz de outro modo. Eu sou realmente um chato.”