O “Três Pelos” e o Filinto

Escrito por Diogo Cabrita

O “Três Pelos” não fez nada na vida. É o “nem nem” mais eloquente. Verborreico, esperto, de argumento incisivo, de dedo acusador, de língua afiada, mas nunca trabalhou, nunca estudou e jamais se deu ao esforço de deixar de fumar ou de beber. Primeiro explorou os pais, depois abusou da benesse dos irmãos, exauriu a namorada e depois as companheiras que sempre acharam que o melhoravam. De estilo acutilante foi conseguindo os seus apoios sociais, conquistando a casinha no bairro, os apoios por doença, atingiu a reforma ainda com trinta e tal anos. Pelo caminho deixou a mulher com um filho que não visita.
O Filinto é uma espécie de Carlos Moedas, bom aluno, trabalhador, desde os vinte a descontar impostos, comprometido socialmente, defensor do Estado Social e das vantagens de manter os tipos sem recursos com rendimento mínimo. Este Filinto conheceu o “Três Pelos” no Liceu D. Maria. Hoje tem uma empresa, paga inúmeros impostos e ainda é benemérito de instituições, ONG’s, crowdfundings. Filinto é bem visto entre os trabalhadores a quem paga os salários a horas.
Filinto paga aos bancos a casa, os carros, os empréstimos, paga a escola dos filhos, paga impostos e salários. Ainda não tem nada, mas luta e labuta para um dia poder ter. Ontem um tipo pediu-lhe umas moedas e quando lhas deu reconheceu o “Três Pelos”. Abraço, espanto, troca de ideias, opiniões vigorosas do “Três Pelos”. Acabaram a beber uma cerveja na casa do bairro social. Filinto viu negada a oferta de emprego, percebeu que o amigo não cuidava da casa que não pagava, viu como o cão estava mal cuidado. Ouviu as histórias da conquista dos subsídios e dos apoios e os modos espertos como foi fintada a assistente social e a Segurança Social. Chegado enojado a casa, Filinto tinha as cartas do IRC, do IVA do IMI para pagar. Entretanto Catarina Martins atacava os patrões no noticiário. Jerónimo falou depois sobre os apoios sociais.

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Diogo Cabrita

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