O Solar dos Alarcões

Escrito por Francisco Manso

“Bem no alto da cidade da Guarda, ergue-se um edifício que pelas suas proporções, quase monumentalidade, desperta a atenção e a vontade de saber um pouco da sua história e da família a ele associada.”

Bem no alto da cidade da Guarda, ergue-se um edifício que pelas suas proporções, quase monumentalidade, desperta a atenção e a vontade de saber um pouco da sua história e da família a ele associada.

A Casa da Guarda

Esse edifício, conhecido por solar dos Alarcões, foi mandado construir por Tomás da Gama Osório, arcediago da Sé da Guarda, para sua residência, em 1681. O conjunto, no seu todo, faz lembrar a influência da presença filipina em Portugal. A capela, dedicada a Santo Estêvão, foi construída na mesma altura. Ao lado, uma elegante varanda com colunas toscanas, a que se acede por larga escadaria. Teria sido construído pelo “pedreiro” Baltazar Correia, natural da Correlhã (Ponte de Lima), terra de artistas, falecido na “Casa” em 1691, quando nela trabalhava.

A família

Tomás da Gama Osório nasceu na freguesia de Santa Maria, Celorico da Beira, em 1617, e morreu de “hum accidente de poplexia” em 1692. Foi sepultado, conforme sua vontade, na dita capela de Santo Estêvão, “com a cabeça chegada ao primeiro degrau do altar donde se porá uma campa… de tal maneira que à ilharga direita se ponha outra campa igual na qual se recolherão todos os ossos de meu Pai, e mãe, irmãos e irmãs… mas não se poderá enterrar ninguém na minha sepultura”.

O morgado da Ratoeira

Por testamento instituiu um morgado e capela, a que vinculou as Casas da Guarda e a Quinta da Ratoeira, entre outros bens. Para administrador nomeou o seu sobrinho Jerónimo Osório de Castro, fidalgo da Casa Real, ao qual deveriam suceder “seu filho mais velho, e seus descendentes para sempre enquanto o mundo durar”. Terá sido ele a mandar colocar a pedra de armas na frontaria da capela.

1. Miguel Osorio Cabral Borges Da Gama E Castro

1. Miguel Osorio Cabral Borges Da Gama E Castro

A Jerónimo Osório de Castro sucedeu António Osório de Castro, a este Jerónimo Bernardo Osório de Castro, e a este Miguel Osório Cabral Borges da Gama e Castro.

Nascido na Guarda, casou em 1784 com Josefa Luísa Brandão Deus-Dará, unindo-se, assim, duas importantes casas fidalgas, de identidade consolidada e avultados patrimónios: a Casa da Guarda e a Quinta das Lágrimas.

2. António Maria Osório Cabral Da Gama E Castro

2. António Maria Osório Cabral Da Gama E Castro

Sucedeu-lhe António Maria Osório Cabral Homem da Gama e Castro, seu primogénito e herdeiro da casa dos Osórios da Gama, que casou em 1823 com D. Maria da Conceição Pereira da Silva Forjaz e Menezes, filha do fidalgo da Casa Real, Damião Pereira da Silva de Souza e Meneses, senhor do primeiro morgadio de Bertiandos e da vila de Bertiandos.

 

 

 

 

O Solar dos Alarcões

Sabemos, já o vimos, a origem desta ilustre casa, mas quando e porquê teria passado a ser assim designada? Tentemos…
A António Maria Osório Cabral Homem da Gama e Castro sucedeu Miguel Osório Cabral Homem da Gama e Castro, seu único filho varão e, como tal, o herdeiro da Casa de seu pai. Só que nunca casou e designou como herdeiro da Casa um sobrinho neto. Arranjou um grande imbróglio na família e para quem tenta deslindar a chegada “Alarcão” à Guarda…

3. Solar Dos Alarcões

3. Solar Dos Alarcões

D. Miguel Osório Cabral de Castro Pereira Homem de Alarcão Velasques Sarmento Correia da Fonseca e Andrade, o feliz contemplado, era filho de D. Duarte de Alarcão Velasques Sarmento Osório (1854-1905) e de D. Maria da Assunção de Lemos e Nápoles Manoel (1865-1887) e neto de Maria do Ó Osório Cabral e Menezes (1824-1856), que tinha casado com um primo direito, D. José de Alarcão, pai de D. João de Alarcão, Governador Civil da Guarda e várias vezes ministro, e irmã mais velha de Miguel Osório Cabral Homem da Gama e Castro.

4. Miguel Osório Cabral Homem Da Gama E Castro

4. Miguel Osório Cabral Homem Da Gama E Castro

Uma confusão… em que havia uma união endogâmica que visava reforçar os laços entre a casa dos Osórios da Gama e dos Alarcões Velasques Sarmentos.

E é, curiosamente, num momento de afirmação republicana que o monárquico D. Miguel de Alarcão resolve uma necessidade imperiosa da Guarda. A cidade queria desenvolver-se, mas absolutamente carenciada de águas não o podia fazer. É neste contexto que oferece um seu terreno, situado na Quinta da Montanheira, limite de Porcas (atualmente Vale de Estrela), rico de águas, que permitia fazer a captação em qualidade e quantidade para abastecimento de águas.

Agradecido, em 1924, o presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal da Guarda, dr. Felizardo Saraiva, republicano ferrenho, propôs um voto de louvor por essa “oferta filha do altruísmo e da galharda fidalguia que mais e melhor enobrecem o sangue da ilustre família Alarcão”.

5.miguel Osório Cabral De Castro Pereira Homem De Alarcão

5.miguel Osório Cabral De Castro Pereira Homem De Alarcão

Seguiu-se, no ano seguinte, a atribuição do nome de D. Miguel de Alarcão à antiga rua Direita, que naquela secção tinha sido, desde 1886, do Mirante (das freiras), e depois, em 1910, do republicano Almirante Reis.

6. D.joão De Alarcão

6. D.joão De Alarcão

O que importa é que, para o povo, e com toda a naturalidade, tinha acabado de nascer o Solar dos Alarcões, que, afinal, já há muitos anos ali tinham casa, mas muitos mais a família Osório, que a construiu.

 

 

 

O padre Dr. Francisco dos Prazeres

Ali faleceu, já velhinho, o padre dr. Francisco dos Prazeres. Veio para a Guarda, que o acolheu de braços abertos, como administrador da Casa da Guarda e da Ratoeira. Soube retribuir, dedicando-lhe a sua vida, sobretudo aos mais desfavorecidos, aos pobres e aos doentes.

7. Padre Francisco Dos Prazeres

7. Padre Francisco Dos Prazeres

Para a capela do hospital da Misericórdia, acabadinho de construir, e do qual foi o principal dinamizador, conseguiu que D. Miguel doasse o belo altar da capela de Santo Estêvão. Para o substituir recebeu um outro, proveniente da Quinta das Lágrimas.

Em 1975 o edifício dos Osórios foi adquirido por Maria Helena Romão Figueira de Sousa e presentemente, sem se justificar, encontra-se identificado como solar de Alarcão.

8. Felizardo Saraiva

8. Felizardo Saraiva

* Investigador da história local e regional

Sobre o autor

Francisco Manso

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