O Rio Diz

A possibilidade de o CET ser construído por um privado e depois arrendado à autarquia por 20 ou 25 anos, e no final do contrato passar para propriedade municipal perante o pagamento de um valor residual (25 mil euros) é um bom negócio.

A construção do Centro de Exposições Transfronteiriço (CET) na Guarda deverá finalmente ser aprovada. Depois de dois anos a “arrastar os pés”, com Álvaro Amaro a gastar dinheiro em estudos para avaliar qual a melhor localização e, no meio das dúvidas e polémicas que chegaram a incluir o Polis como localização, será feito no Rio Diz. Era a decisão mais acertada desde o primeiro momento.
O problema da Guarda vai muito para além das dificuldades inerentes à interioridade, à falta de recursos ou meios, tem a ver com a enorme falta de utopia e de capacidade de decidir. Os projetos tropeçam em todas as pedras e as ideias convivem sempre com o imobilismo e o bota-abaixo ou as pequenas invejas próprias de um provincianismo trôpego e rural. Por isso, a Guarda não passa da cepa-torta. Uma coisa é a discussão pública das opções, das escolhas ou das decisões, a outra é o imobilismo, o ficar à espera que as coisas aconteçam sozinhas. É assim; foi sempre assim. Por isso a Guarda ficou parada; por isso, rezingões, ficamos a lamentar que os filhos partam e não regressem, que os investimentos ocorram noutras cidades, que as escolhas de futuro não passem por aqui. E quando passam, demoramos a interioriza-las, a assumi-las como nossas e a perceber a sua relevância e impacto.
A possibilidade de o CET ser construído por um privado e depois arrendado à autarquia por 20 ou 25 anos, e no final do contrato passar para propriedade municipal perante o pagamento de um valor residual (25 mil euros) é um bom negócio. A autarquia não tem dinheiro para fazer um investimento desta dimensão, não há fundos comunitários para este tipo de infraestruturas e, entretanto, a cidade não tem um pavilhão multiusos – a FIT custa todos os anos perto de 400 mil euros entre o aluguer de estruturas amovíveis e os arranjos na requalificação de uma área do Parque Urbano que sofre as agruras da instalação da feira de turismo. E não fica nada para o futuro.
Sobre a mesa, o negócio com a Greenfield permite à autarquia encaixar dois milhões de euros pela venda dos terrenos adquiridos há 19 anos à Sociedade Têxtil Tavares e resolver o imbróglio que prometia arrastar-se durante anos na justiça – e onde teria de investir mais quase 400 mil euros em obras nos terrenos adjacentes (por um péssimo negócio feito em 2001). Com a implantação do Centro de Exposições no Rio Diz contribuirá para a promoção de uma nova centralidade e a possibilidade de ali ser instalado também um hospital privado, que, entretanto, o fundo de investimento está a negociar para a Guarda ou a Covilhã.
Atrair investimentos, serviços e empresas é a única forma de conquistar o futuro. De nada servirá ter ruas bem compostas, aldeias ajardinadas, um concelho “bem-tratado”, se não houver investimentos estruturantes e sustentabilidade económica na cidade, se não houver emprego e emprego qualificado e com futuro, mas para isso é preciso investir na área urbana e apostar na ciência, nos serviços, na economia do conhecimento, no ensino superior, na qualificação… O Rio Diz tem de ser a aposta de futuro. Com o CET, com um hospital, com um centro de interpretação da água, com uma nova zona de lazer (um novo Polis), com a requalificação dos trilhos do rio, com jardins e zonas de lazer, desde o Zambito até ao Parque Urbano.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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