O retratista dos flocos de neve

Escrito por António Costa

«Os cientistas pensam que existem essencialmente quatro formas de cristais de neve»

A neve é formada nas camadas mais altas das nuvens, quando a temperatura lá em cima está abaixo de zero. As gotas de água congelam-se e transformam-se em flocos de neve. Isto é comum em grandes altitudes, mas nem toda a neve chega ao chão. À medida que os flocos se aproximam do solo, a temperatura aumenta e eles derretem. Nas montanhas é comum nevar mesmo com a temperatura perto dos 4 graus positivos, pois a grande altitude e pressão inferior à atmosférica impede que a neve se derreta.

Certamente já ouviu dizer ou leu que não existem dois flocos de neve iguais. Tal afirmação foi feita por Wilson A. Bentley (1865-1931), uma curiosa personalidade que dedicou a maior parte da sua vida a fotografá-los, como iremos ver mais à frente neste texto. A formação de cristais de neve, que, apesar de vulgar, é única porque se formam estruturas únicas de cristais de gelo.

Os cristais de neve formam-se em nuvens frias, muito acima da Terra. A altitudes muito elevadas, onde a temperatura desce a -40ºC, o vapor de água das nuvens pode congelar subitamente, transformando-se em cristais de gelo. Nas nuvens mais baixas onde a temperatura é mais elevada, o vapor de água congela lentamente em torno de partículas empurradas pelo vento quando a temperatura desce aos 0ºC. Os cristais de neve formam-se, assim, em torno de pequenas partículas de poeira levados pelo vento. Com microscópios muito potentes é possível visualizar as partículas escondidas no interior dos cristais de neve.

Os cientistas pensam que existem essencialmente quatro formas de cristais de neve. A mais simples é de longas e aguçadas agulhas. As restantes três têm seis lados – são hexágonos. A forma adquirida pelos cristais de neve depende da temperatura sob a qual se formam. Cada cristal de neve é diferente, possuindo um padrão característico. Ao observar cristais de neve veem-se padrões dentro de padrões, estrelas dentro de estrelas. Quando crescem e se tornam mais pesados, caem sobre a Terra. Os cristais quando caem agrupam-se em flocos, que podem ter de 2 a 200 cristais diferentes. Se o ar abaixo das nuvens de neve está a uma temperatura superior a 0ºC, os flocos derretem transformando-se em chuva. Mas, se o ar estiver frio, os flocos vão cair formando-se um manto branco. No solo, os flocos perdem as suas formas delicadas, tornando-se redondos e homogéneos.

Bentley foi pioneiro da fotografia microscópia e foi a primeira pessoa a fotografar um cristal de neve, o que aconteceu em 1885. Fascinado pela sua beleza, a partir desse momento e até ao fim dos seus dias não cedeu no seu desejo de imortalizar com a sua máquina os delicados flocos de neve. Chegou a fotografar mais de 5.000 desses delicados cristais de neve, e embora o padrão hexagonal se repetisse em todos eles, uma vez que o gelo comum tem essa estrutura cristalina, nunca assumiam formas idênticas. Cada uma das estrelinhas de neve fotografadas era diferente em algum aspeto e o mesmo se passava com as placas e as pequenas colunas de gelo que. por vezes, constituam os flocos de neve.

As chapas com as microfotografias de Bentley tornaram-se muito populares nos EUA graças à sua publicação em várias revistas e ao livro “Snow Crystals”, editado no ano da sua morte. Tirou todas as fotografias em Jericho, no estado de Vermont, onde tinha a sua quinta, hoje transformada em casa-museu. Nela encontra-se grande parte do legado de Wilson “Snowflake” Bentley.

Aguardemos, com entusiamo, o primeiro nevão na “mais alta” para observar este curioso fenómeno.

Sobre o autor

António Costa

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