O Ranking de Escolas como instrumento de trabalho

“Devem ser utilizados para redefinir estratégias, melhorar processos de ensino, aquilatar falhas e erros, corrigir o caminho”

No dia em que foi divulgado o Ranking das Escolas, estranhamente o Ministério da Educação deixou de ter acesso às classificações dadas nas escolas privadas. Com esta disposição esdrúxula, que contribui para uma maior desigualdade no acesso ao ensino superior, vemos como o Estado tem menos instrumentos de controlo sobre o funcionamento do ensino particular.
Como sabemos a publicação do Ranking das Escolas tem sido dominada pelo ensino particular e a sua divulgação é sempre vista como desprezível pela maioria dos professores. Aliás, os interesses ligados à escola pública, ao setor público e aos sindicatos de professores fizeram de tudo para evitar a realização e a publicação dos rankings. «Felizmente perderam», como concluiu António Barreto na sua análise no “Público”. Efetivamente, podemos consultar e analisar aqueles dados, pois são instrumentos de medida e avaliação à disposição de todos, da comunidade escolar, dos cidadãos em geral e das famílias. Podemos perceber e interpretar os diferentes itens alocados na análise e, essencialmente, podemos olhar para o ranking como um instrumento de trabalho, pois sendo certo que distorcem alguns aspetos da realidade, também permitem conhecer melhor os caminhos trilhados, até por comparação, pois mesmo não considerando fenómenos de desigualdade social ou outra, devem ser utilizados para redefinir estratégias, melhorar processos de ensino, aquilatar falhas e erros, corrigir o caminho… Enfim, com seriedade e sem ruído estéril, obviamente, a publicação e interpretação do Ranking das Escolas é muito positiva e não entendo a postura de muitos professores e inclusive diretores de escolas sobre essa divulgação. A escola é de todos, e é em primeiro lugar dos alunos, e perceber, conhecer, analisar, discutir o que ocorre nas escolas deve ser sempre motivo de interesse de todos, dos professores, como dos encarregados de educação, dos diretores, como da sociedade no seu todo, e meter a cabeça na areia não irá melhorar nada o sistema escolar e a educação.
Não duvidando que a melhor escola será sempre aquela que não desiste dos seus alunos e aquela que mais e melhor fizer pelos seus alunos, «é absolutamente normal que o sistema privado, com todos os seus privilégios, tenha melhores resultados». Mas o que deveria ser um incentivo, um desafio, onde todos poderiam procurar receitas e modelos de êxito, do modelo de financiamento à remuneração dos professores ou à atividade cultural ou à disciplina, vemos como a maioria dos professores refuta a publicação de rankings e vemos uma «atitude ridícula de tanta gente que, perante a superioridade dos resultados, propõe que se acabe com o ensino privado e se escondam os rankings», até porque, sem dúvidas, a escola pública é um dos principais meios de luta contra a desigualdade social, determinante não apenas em termos de “elevador social”, mas também de igualdade de oportunidades e, por isso, deveríamos, todos, procurar «conhecer, criticar e valorizar todo o sistema, em vez de esconder os defeitos, proibir as comparações» ou eliminar os que fazem mais e melhor.
É neste contexto que temos de valorizar todo o trabalho que é feito na escola, em todas as escolas. Mas, sem pruridos, aplaudir os que aparecem nos lugares mais destacados. «Não trabalhamos para o ranking», ouvimos aos que têm mais razões para festejar, mas devem festejar, sem falsa modéstia, mas com a satisfação de quem fez bem o seu trabalho. E isto não significa que nas escolas menos bem classificadas não tenha sido feito um bom trabalho, significa que talvez tenham de corrigir a estratégia ou o modo de funcionamento. Sem desistir de ninguém, porque para lá dos resultados nos rankings há um trabalho que todos reconhecem, e ainda mais nas escolas cujo contexto social, económico ou regional é mais adverso.
A Escola Secundária Alves Martins, em Viseu, é 44ª no Ranking das Escolas e a terceira pública a nível nacional – um exemplo e uma referência, num distrito do interior que tem cinco escolas entre as 100 primeiras. A Escola Secundária Quinta das Palmeiras é 50ª no Ranking das Escolas e melhor do distrito de Castelo Branco.
A Escola Secundária Afonso de Albuquerque é, sabidamente, a referência no distrito da Guarda (é 86ª logo à frente da prestigiada Escola José Falcão, de Coimbra – 87ª) e a Escola de Pinhel (92ª) acompanha-a entre as 100 melhores do país de um ranking, uma vez mais, dominado pelo ensino particular. Mas também há escolas privadas entre as últimas do ranking.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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