Quando fui eleito deputado pela Guarda, afirmei com toda a convicção que, na Assembleia da República, nunca votaria contra qualquer iniciativa ou proposta que fosse importante e útil para o desenvolvimento do nosso distrito.
Até hoje, não me pesa na consciência ter esquecido esse compromisso. Eu nunca falhei à Guarda! Mesmo quando, no passado dia 12 de dezembro, votei contra o projeto de resolução do PSD, nº 83/XIV/1ª.
Estamos a falar de quê?
O título da iniciativa dá a resposta: Recomenda ao Governo que adote um programa de apoio à mobilidade de âmbito verdadeiramente nacional e territorialmente justo. E qual era a proposta concreta? Recomendar ao Governo que… adote com urgência políticas de equilíbrio e de coesão territorial incentivando… a mobilidade das populações que residam, trabalhem ou se desloquem fora das duas áreas metropolitanas do país. A sua aplicação seria nas ex-SCUT e outras autoestradas.
Foi por isso que a proposta foi assinada por deputados do PSD de vários distritos, de Norte a Sul do continente. Era um “fato feito à medida” para agradar a todos. Eis o milagre da recomendação do PSD ao Governo: fingir que era muito o que na realidade era poucochinho.
Recomendar aos ministros e secretários de Estado, ao próprio primeiro ministro, a urgência da redução das portagens no interior faço-o eu todos os dias. As portagens são uma nova barreira ao nosso desenvolvimento, uma fronteira artificial que prejudica as relações transfronteiriças.
Era agora o PSD que nos vinha ensinar a recomendar ao Governo de António Costa o que se devia ou não fazer, em termos de mobilidade e coesão territorial…
O foguetório, já anunciado nas eleições, só serviu para distrair. Até parecia – e, se calhar, alguém acreditou nisso – que o PSD defendia mesmo a abolição das portagens e que se os deputados do PS tivessem votado a favor, hoje já ninguém pagava na A23 ou na A25.
A esperteza saloia em política não pode dar para tudo. Estávamos apenas a três dias da entrega do Orçamento de Estado na Assembleia da República. É na fase da discussão orçamental, na especialidade, que iniciativas sérias, com objetivos concretos, são apresentadas, discutidas e votadas.
Reparem todos: o que tinha acontecido se a votação tivesse sido favorável ao documento social-democrata?
Nada, absolutamente NADA!
O PSD vive hoje dias conturbados. A disputa interna pela presidência do partido leva a este tipo de propostas demagógicas e populistas; a fuga em frente é sempre mobilizadora.
A Guarda e o Distrito foram meros acessórios nesta estratégia. De tal maneira todos conheciam já o resultado da votação – PS, Bloco, PCP e PEV não alinharam na manobra – que a declaração de voto oral do PSD até já ia escrita!
Quem promete tudo a todos é porque não quer dar nada a ninguém. A questão das portagens no interior é demasiado importante e séria para se brincar, assim, com ela. A Guarda merecia mais respeito.
Festas Felizes e um Grande 2020 para todos.
* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda