O problema

Escrito por Júlio Sarmento

Fugir dos problemas tem sido um dos mais significativos legados da experiência de governação socialista.

Sempre que um problema volta, com inquietações iguais, sem objetivo de mudança, a solução passa desde logo por identifica-lo como resultado do passado recente, consequência, necessária, de culpa alheia. Não faltam exemplos na saúde, no ambiente, na justiça, no território ou na segurança.

Numa cultura de absoluta comodidade e renuncia, vocação de quem prefere a festa e o anúncio ao planeamento e decisão, se não existe forma de anular a consequência do problema, muda-se o problema por não se ter a capacidade de encontrar a solução.
O que então se usa é o anúncio de novos factos, novos processos, como forma de enterrar os problemas velhos. Consequentemente frustra-se assim a oportunidade de enfrentar o problema, sem distinguir entre problemas velhos e problemas novos.
É como que tudo se resolvesse com a colocação de ponto final e a mudança de linha para satisfazer todas as conveniências ocasionais. Como se a política fosse apenas a arte de sepultar os problemas e o berço da ilusão e da fantasia.

O lavar das mãos é uma tradição antiga, um velho ritual e uma vocação que não desapareceu. E tudo isto com uma corajosa falta de humildade tão perturbadora quanto amarga e confrangedora.
Esquecem-se é que, ainda que enterrados, os problemas não morrem, permanecem, em conflito e indiferentes a todos os pontos finais e novas linhas.

O mundo continuará como estava, oferecendo agora a imagem implacável do desastre se a política pensar que basta virar as costas e fechar os olhos aos problemas.

* Antigo presidente da Câmara de Trancoso e presidente da mesa da Assembleia Distrital do PSD da Guarda

Sobre o autor

Júlio Sarmento

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