Imaginemos um governante de um país democrático que constrói uma narrativa baseada no controlo da imprensa e da televisão. Imaginemos que era Portugal e que António Costa seria irmão do diretor da SIC e amigo pessoal do diretor da TVI e, já agora, que colocava ele nos lugares de direção os líderes da TV pública. Seria pouco provável que controlasse a informação. Nunca! – dirão os seus fãs.
Imaginemos que no tal país democrático esse governo criava notícias para ganhar eleições, geria o dinheiro público para ele aparecer milagrosamente a dias de umas eleições. Voltemos a Portugal: seria impensável que o dinheiro da ala pediátrica do S. João aparecesse agora. Apareceu, mas foi por acaso! Dirão os seus fãs. Imaginemos que o ataque à greve dos motoristas foi pensado, construído de modo cinematográfico, burilado de modo a dar imagem de autoridade e determinação mesmo que apoiando patrões de empresas usando milhões de euros de dinheiro público. Dinheiro do Estado a dificultar greves? Isso é impossível, dirão os fãs. Mas quem pagou horas extra a polícias, ao exército, quem calou todas as notícias do Deutsch Bank em prejuízos colossais, quem sepultou o tema Venezuela, quem calou a guerra na Síria?, quem apagou a existência de Santana Lopes, quem calou notícias do CDS e PSD e mesmo de inúmeros outros partidos? Isso é construir uma nova realidade, dirão. Mas a realidade dá 60% dos noticiários, durante dez dias, ocupados com os motoristas de matérias perigosas e… vejam só… os membros do Governo. Paulo Duarte e outros patrões devem estar contentes. O Governo julgava que fazia este passeio sem que as redes sociais falassem – mas enganou-se. A democracia no PS está em perigo, disse António Barreto num artigo notável e eu subscrevo.