Governar hoje é um jogo de equilíbrios, onde se tenta convencer o maior número possível de eleitores da bondade e da vantagem de determinadas decisões de gestão com o objetivo de ganhar as eleições seguintes. Todos os partidos são um conjunto de princípios e de interesses, sendo que os políticos que fazem parte das lideranças partidárias de cada momento combinam esses dois elementos de forma muito variada e, com frequência, perversa…
A medida do Passe Único, que brevemente irá entrar em vigor, é uma mistura de interesse público e de calculismo eleitoral. Embora se dirija em primeira instância às áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, a redução tarifária teve a adesão de todas as 23 comunidades intermunicipais (CIM). Tem por isso potencial para beneficiar 85% dos portugueses, tendo agora cada CIM a liberdade de desenhar o seu próprio modelo de redução de tarifário conforme entender: é um caso em que o talento e a competência de cada conjunto de autarcas vai ser posto à prova. Veremos do que é que a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela é capaz de fazer!
Bem sabemos que, do primeiro envelope de 104 milhões de euros do Orçamento de Estado, 88 milhões irão para as regiões de Lisboa e Porto. Mas isso é da natureza das coisas: se é lá que se polui mais, se é lá que se gasta mais combustível e que o Estado mais tem de gastar em infraestruturas, é natural que seja lá que se tente contrariar com mais intensidade o transporte individual e levar as pessoas a mudar para os transportes públicos.
A questão é outra. Se os lisboetas e portuenses aderirem ao estímulo que lhes está agora a ser dado, isso significa que o país poupará anualmente centenas de milhões nas áreas metropolitanas (desde logo, em combustível) e que o Estado terá mais meios para apoiar e desenvolver o interior do país.
Essa é a parte em que os políticos e os autarcas do Interior se devem concentrar: conceber e organizar iniciativas e soluções que, pela sua qualidade, justifiquem que Estado central invista nelas as poupanças globais que vão ser geradas pela maior eficiência dos transportes nas áreas metropolitanas.
Agora não se trata de só se acusar Lisboa de ficar com tudo. É preciso mostrar que no Interior, na Beira Alta, há capacidade para desenhar políticas que sejam boas para a região e para o país. Isso – não haja ilusões – dará muito trabalho e exigirá muito investimento, estudo, inovação e competência por parte dos nossos autarcas e políticos. Esperemos que tenham unhas para tocar essa guitarra.
* Dirigente sindical