A vitalidade económica das regiões depende da interação entre diferentes variáveis, algumas intrínsecas à própria região como seja a dotação de fatores: recursos naturais, infraestruturas físicas e de saúde, acessibilidades, o meio ambiente, o tecido empresarial, a qualificação da população, as zonas habitacionais polarizadoras e o património arquitetónico e arqueológico. Outras variáveis como a existência de Instituições de Ensino Superior (IES) dinâmicas, a capacidade para atrair e reter talento, a qualidade dos líderes políticos e dos atores sociais, complementam as primeiras e são fundamentais para a competitividade e a riqueza económica da região.
Num contexto de regiões de baixa densidade, resultantes de politicas publicas erradas ao longo de décadas, gravemente influenciadas pela emigração, suportadas ao longo dos tempos, por uma economia fundamentalmente agrícola, ou por setores industriais de mono industria tecnologicamente pouco avançados, longe dos meios cosmopolitas do país, foi a visão de alguns (poucos) que ousou defender a ideia da instalação do ensino superior, no interior do país, como meio de desenvolvimento, geração de conhecimento e fixação de populações.
Deixando de lado ideologias políticas obscuras, que tudo contestam, podemos afirmar que as IES funcionam nas regiões onde se localizam, como agentes catalisadores do desenvolvimento e contribuem para o florescimento da esperança no futuro desses territórios. Nesse contexto pode referir-se que: as IES são agentes geradores de emprego altamente qualificado o que possibilita a atração de talento; funcionam como polo de atração de jovens (estudantes) de outras zonas de maior densidade populacional; amortecem a perda de população; os gastos dos seus recursos humanos (docentes, funcionários e estudantes) e os gastos das IES em si, que são um agente consumidor de bens e serviços, têm um efeito direto na economia local, dinamizando o comércio, as empresas, a criação de emprego e fomentam o mercado da habitação; atuam ainda como agente transformador dos contextos sociais, culturais e artísticos das cidades onde se localizam.
Além dos efeitos diretos atrás mencionados, as IES geram outros efeitos de importância fulcral para a transformação dos territórios de baixa densidade. Falamos naturalmente do conhecimento criado através da investigação desenvolvida, que através da lecionação gera não só novo talento, mas também, inovações com valor para o mercado. Este conhecimento funciona como um íman atraindo pessoas e investimento, gerando empresas de novos setores de atividade, fundamentais para alterar o perfil competitivo da região.
A título de exemplo refira-se a Cova da Beira e os efeitos de “spill over” resultantes da localização da Universidade da Beira Interior. A Instituição tem hoje mais de 100 cursos (licenciaturas, mestrados, doutoramentos), é frequentada por mais de 9.000 alunos, dos quais 1.900 internacionais, 700 alunos de doutoramento, tem 19 unidades ou polos de investigação, publica mais de 1.000 artigos científicos por ano, gerando conhecimento que a coloca em patamares de excelência nos rankings internacionais, conta com 27 “start-ups” na incubadora de empresas, algumas das empresas já escalaram para o mercado. As cidades da Covilhã e do Fundão beneficiam grandemente da sua presença, tendo-se transformado em cidades do conhecimento, com empresas altamente competitivas sejam de setores tradicionais ou de novos setores, cujos produtos e serviços são reconhecidos internacionalmente. A região caminha para se transformar, a curto prazo, num verdadeiro COVA da BEIRA VALLEY, funcionando a UBI como a simbiose da aglomeração urbana das duas cidades.
* Reitor da UBI – Universidade da Beira Interior