Passa-se uma vida a ouvir mitos sobre a América do Sul e depois a primeira ida é uma desilusão. O que se sabe sobre a Colômbia? Que produzem coca e café, que se fartam de andar aos tiros e que é uma nação miscigenada.
A primeira impressão de Bogotá é que há muito mais tráfego do que tráfico. À primeira vista, há mais automóveis do que mulas. Não só ninguém me tentou aliciar a consumir ou transportar droga, como não houve uma única tentativa de golpe de estado ou um ataque de grupos guerrilheiros durante os dez dias da minha visita à Colômbia, e saliente-se que faltavam duas semanas para as eleições presidenciais.
Hoje em dia, a autenticidade é um dos valores mais apreciados quando se viaja. Mas a verdade é que a situação mais complicada que vivi na América do Sul foi ter de regatear um preço para ajustar às notas que trazia no bolso. Se houve algum assalto naquelas ruas, foi o deste burguês europeu que retirou dez mil pesos colombianos ao rendimento daquele trabalhador sul-americano.
Na verdade, estou a ser eurocêntrico e a concentrar a viagem na minha vivência. O hotel e a Universidade del Rosario estão situados no bairro da Candelaria, onde também estão sediados a Câmara Municipal e o Congresso dos Deputados. Disse-me quem percebe que, dentro desses edifícios, o roubo também é uma actividade bastante frequente.
Na Colômbia, expandi o meu vocabulário em exactamente uma palavra. Como tudo pode ser “chévere”, aprender essa palavra já foi bastante “chévere”.
Em Cartagena de Indias conheci os ingredientes da magia caribenha. Na rua, a presença constante de cores garridas, fruta fresca e suor tropical. Dentro da cidade muralhada, as casas senhoriais recordam bem o colonialismo europeu. Na costa de Bocagrande, os hotéis de trinta andares denotam a presença do neo-colonialismo americano.
Fui abordado inúmeras vezes nas ruas para satisfazer desejos carnais. Em todas as ruas há dezenas de promotores de restaurantes que oferecem incessantemente os menus dos estabelecimentos para que trabalham.
As principais exportações legais da Colômbia são o café, os livros de Gabriel García Márquez e a Shakira. Por manifesta falta de espaço na mala, só me foi possível trazer dois destes produtos.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
** Nuno Amaral Jerónimo esteve em Bogotá a convite da Universidade del Rosario