O outro hospital que muitos ainda não conhecem, onde o SNS respira e as pessoas recuperam

Escrito por Ricardo Antunes

Num tempo em que os hospitais vivem sob pressão constante, entre serviços de urgência lotados e equipas exaustas, existem estruturas discretas, mas fundamentais, que operam em silêncio. As Unidades de Cuidados Continuados Integrados são ainda desconhecidas para muitos e frequentemente confundidas com lares. No entanto, são parte essencial da rede pública de saúde e desempenham um papel determinante no equilíbrio de todo o sistema.
Estas unidades acolhem pessoas que, por diversas razões clínicas, não podem regressar de imediato a casa após uma hospitalização. São doentes em convalescença, em processo de reabilitação, com doenças crónicas em fase de estabilização ou em situação de dependência temporária. Necessitam de cuidados médicos, de enfermagem, de apoio psicológico, de fisioterapia e de alimentação adaptada. Precisam de um ambiente clínico, mas menos intensivo do que o de um hospital.
Ao receberem estes utentes, as Unidades de Cuidados Continuados libertam camas hospitalares e permitem que unidades como o Hospital da Guarda se concentrem nos casos mais urgentes e complexos. Esta articulação resulta numa resposta mais eficaz para todos. Permitem que as pessoas recebam os cuidados certos, no tempo certo e no lugar certo.
Mas estas unidades são muito mais do que uma extensão técnica do SNS. São, muitas vezes, o lugar onde a dignidade reencontra o tempo. Onde a recuperação não se mede ao ritmo da urgência, mas ao compasso do ser humano. Onde há espaço para reabilitar um corpo, mas também para acalmar uma mente, reestruturar uma família e preparar um regresso a casa em segurança. Porque cuidar é mais do que tratar. É acompanhar, escutar e permitir que cada pessoa, mesmo na fragilidade, continue a sentir-se inteira.
Investir nestas unidades é investir na racionalidade do sistema de saúde, mas sobretudo na humanidade com que tratamos quem mais precisa.
Ainda assim, nem sempre quem detém poder político local reconhece o valor de quem já cuida. Às vezes, prefere-se apoiar o que chega de fora, o que promete rápido, o que brilha mais ao olhar apressado. E esquecem-se aqueles que, há anos, fazem a diferença onde ela mais conta, no território, nas pessoas, nas vidas reais. A história acabará por distinguir quem escolheu bem. E quem virou a cara a quem mais precisava.

* Diretor-geral da CERCIG

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Ricardo Antunes

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