O ótimo-cético 2023

Escrito por Albino Bárbara

“Que a transparência fique definitivamente na ordem do dia. Que sonhemos o impossível e, quiçá, mais além. Que o investimento público na saúde, na educação, na cultura, na vida das pessoas seja uma realidade. Que o nosso interior não seja esquecido. Que regresse a paz.”

«Não posso mais olhar para aquela imagem. Parece que é sempre a mesma paisagem. A hipocrisia deste império. Ainda vou ser ecologista exótico, ilusionista crónico, mestre da fuga, mago supersónico». É assim que Jorge Palma retrata o momento (político) que atravessamos e, mesmo com toda a informação cruzada, não sou capaz de assumir plenamente o lado cético nem tão pouco o otimismo místico, ficando do lado do otimismo-cético, mesmo percebendo que teremos sempre a oferta choruda do eterno coração de piolho e de umas gordas e recheadas costeletas de pulga.
Sinceramente há coisas que a ciência, mesmo a política, não consegue explicar.
Nos anos 90 era assim e assim continua 33 anos depois. De todos os estados da OCDE, o cantinho à beira mar plantado, mantém lugar no pódio percentual, com medalhas de ouro, prata e bronze, sendo campeão em diabetes, sida, tuberculose, droga, tabagismo, suicídio, maior número de pobres e novos pobres, piores salários e reformas, combustíveis e energia mais cara e, contracena nos últimos cinco anos com o maior aumento de ricos e grandes fortunas. Somos ou não somos os maiores? Nalguma coisa haveríamos de ir no pelotão da frente…
Vão-nos entretendo com as novelas cor-de-rosa, com a desfaçatez das conferências de imprensa, com o défice, crescimento económico, com as historietas de cordel do Cristiano, com o malfadado SNS, que a direita sempre rejeitou, com os processos que se arrastam sem fim à vista nos tribunais, a que se soma uma oposição sem ideias, sem consistência e com visível falta de liderança, com um Presidente a dizer sempre a mesma coisa e a comentar tudo aquilo que pouco ou nada lhe diz respeito, onde a falta de postura de Estado é uma constante, com a saída de governantes, à média de um por mês, às polemicas nas empresas públicas, às inverdades do copo meio cheio – e, para o povo, permanentemente meio vazio, à TAP, às indemnizações milionárias, levando também aqui a dianteira a todos os outros europeus.
Eis então chegado o momento de analisarmos três palavrinhas que deviam estar sempre presentes na vida das sociedades, logo na nossa própria vida: Ética, Moral e Direito.
Ética é uma teoria definida por Cícero como Ciência Moral, estuda o comportamento. A Moral é um conjunto de princípios onde encaixam as atitudes e a maneira de agirmos. Já o Direito, como bem sabemos, regula as relações entre pessoas e instituições.
Numa sociedade democrática e, numa reinvenção da cidadania, estes três conceitos trazem ao de cima o respeito de cada individuo pelas suas próprias escolhas onde estão inerentes a firmeza dos princípios e as convicções.
Dito isto e, tendo em conta apenas o direito, onde fica a ética e a moral? Fronteiras diferentes, conceitos antípodas que afinal não caminham lado a lado, muito menos de mãos dadas, só ultrapassáveis pelo “bonito” da situação.
Assumindo tudo quanto se pode pesar nos pratos da balança e, se por acaso, qualquer um de nós, ao admitir a legalidade da situação, mesmo percebendo que isto é um processo coletivo e a todos toca, a pergunta é inevitável: Devolveria os 500.000?
Que a transparência fique definitivamente na ordem do dia. Que sonhemos o impossível e, quiçá, mais além. Que o investimento público na saúde, na educação, na cultura, na vida das pessoas seja uma realidade. Que o nosso interior não seja esquecido. Que regresse a paz.
E se alguma decência houver por parte da maioria absoluta (raios partam as maiorias absolutas), 2023, em vez de um remendo mal-amanhado, feito à medida para calar unicamente as vozes rosas dos críticos que todos os dias aumentam, deveria trazer um novo governo sem estes protagonistas, com outra e nova mentalidade, para que não haja necessidade de trocar o António pelo Roger Schmidt ou não se inverta o papel de Artaud pelo verdadeiro artista João Baião.

Sobre o autor

Albino Bárbara

Leave a Reply