O “novo” PSD

Escrito por Carlos Peixoto

Luís Montenegro é o senhor que se segue. Venceu em todos os distritos do país e cilindrou o seu adversário pelos números mais expressivos de sempre (72,47% contra 27,53%). Com esta legitimação, que não fica prejudicada pela abstenção de relevo que se atingiu, a sua primeira missão, que é a de unir o partido, está mais facilitada, fechando-se claramente o espaço para uma eventual oposição interna à sua liderança. Compete-lhe agora dar o sinal de que muito se fala e pouco se pratica, escolhendo para os órgãos nacionais do partido não apenas os/as da sua “entourage”, mas também aqueles(as) que ou estiveram do outro lado ou que não estiveram de lado nenhum, desde que reconhecidamente capazes e preparados.

Conquistada que foi a militância do partido e consolidado que seja esse desejável envolvimento dos mais habilitados, o novo líder do maior partido português tem depois uma vida bem mais trabalhosa, mas nem por isso inatingível, que é conquistar o país e os portugueses.

E é aí que ele tem de mostrar todo o seu talento e inegável competência política. Nos últimos 27 anos o PSD só foi governo durante 7 anos e meio e sempre em coligação com o CDS, “parceiro” que quase se eclipsou. O PS de Guterres, Sócrates e Costa juntos, governarão no final desta legislatura 24 anos. Para quem repousa na história e na ciência política, em democracia subsiste a expectativa de que mais tarde ou mais cedo vencerá a alternância e que depois do governo PS se seguirá um governo do PSD. A verdade é que estes ciclos tradicionais já não são o que eram e a melhor demonstração disso mesmo foram as eleições legislativas de 30 de janeiro último, em que o PSD permitiu, meio pasmado, que dois novos partidos de um deputado único se transformassem em grupos parlamentares com mais significado que o PCP e o BE. A Iniciativa Liberal e o Chega só se fortaleceram porque o PSD deixou à mercê desses partidos um espaço político que era seu. Não se soube renovar, perdeu modernidade e atratividade e cristalizou-se no seu conservadorismo e ruralidade.

É certo que estes novos partidos continuam a ter uma representatividade marginal, com 4,91% e 7,18% de votos, respetivamente, ainda muito longe dos 27,67% alcançados pelo PSD. Mas só há uma forma de se travar a margem de crescimento futuro destes neófitos fenómenos, que será tanto menor quanto maior for a dinâmica social, a capacidade de renovação e abertura que Luís Montenegro conseguir imprimir ao PSD. Mais relevante que uma oposição vocal ou que um bom programa do Governo, o PSD deve explicar para que serve e a quem pretende servir, mostrando que é útil à maioria dos portugueses.

Talvez fosse avisado relembrar a quem já se esqueceu que é no seu seio que permanece a maior e mais ativa organização partidária jovem do país (a JSD), que esteve sempre ao lado desta geração nas suas lutas contra o aumento das propinas no ensino superior e que tem ao longo dos tempos apresentado várias propostas com significado nas áreas da habitação, saúde, trabalho, educação e economia para os jovens; ou que foi este partido quem instituiu com o DL. 184/91 de 21/10 o 14º mês (o equivalente ao subsídio de Natal) para funcionários públicos e pensionistas, hoje ainda aziados com a “social democracia” por causa de medidas tomadas num contexto de bancarrota com que o PS nos brindou; ou que foi pela sua mão que teve lugar a maior reforma fiscal em democracia, com a abolição de vários impostos anacrónicos e a sua substituição pelo atual modelo do IRC e do IRS (agora também já a precisar de uma revisão profunda); ou que os seus governantes foram pioneiros nas preocupações ambientais e climáticas, hoje impropriamente associadas ao património de outras forças políticas.

Tudo isso foi lá atrás, é verdade, mas o PSD vai ter mesmo de se inspirar no seu passado de servidor do país para renovar a sua vocação reformista e reconquistar a confiança dos eleitores, especialmente daqueles que se abstêm de votar e daqueles que, votando, irão ficar desiludidos com esta anestesiante hegemonia socialista, de quem terá de se diferenciar com urgência, para que a opção não seja entre o original e a fotocópia, mas sim entre modelos alternativos de crescimento do país em temas chave como a economia e a fiscalidade.

O novo presidente do PSD tem agora tempo e talento mais que suficientes para fazer uma reflexão séria sobre o destino do partido e do melhor caminho para um dia voltar a governar. Vamos ver se tem esse sucesso. Eu acredito que sim, a bem de Portugal.

* Advogado, ex-deputado e antigo líder da Distrital da Guarda do PSD

Sobre o autor

Carlos Peixoto

Leave a Reply