O primeiro meteorito recolhido na Antártida, em 1984, com o aspeto de uma rocha com cerca de 2 quilómetros, guardava no interior uma surpresa tão grande que desde o momento que a revista “Science” publicou, em 1996, um artigo que apresentava os resultados da análise realizada à sua estrutura interna desencadeou um debate que se prolongou durantes anos.
Ao analisar ao microscópio eletrónico as amostras do interior do meteorito designado por ALH84001, observou-se uma curiosa estrutura em forma de verme, mas de dimensões muito mais reduzidas, composta por anéis concêntricos com diâmetros que vão de 20 a 100 nanómetros (1 nanómetro equivale à milésima milionésima parte do metro). David McKay, astrobiólogo do Johnson Space Center na NASA, responsável pela investigação, apresentou estes dados ao mundo, embora com prudência, como a prova de que, há cerca de quatro mil milhões de anos, em Marte havia formas de vida bacterianas e que o que haviam encontrado no interior do meteorito era um resto fossilizado destes organismos.
Com efeito, concluíra-se que o meteorito viera de Marte após analisar os gases encerrados nas bolhas presentes na estrutura. Todavia, ao mesmo tempo, desencadeou-se uma autêntica batalha entre os defensores desta tese e os que consideravam que o que se observara era o produto de uma contaminação por parte de um organismo terrestre ou, quando muito, uma estrutura que aos nossos olhos, por analogia com o mundo que nos rodeia, parecia estar relacionada com um organismo vivo quando, na realidade, não passava de uma estrutura inanimada que só por acaso tinha aquele aspeto de verme microscópico fossilizado. Com efeito, havia grânulos de calcite com propriedades magnéticas típicas de materiais que, na Terra, são metabolizados por um tipo de bactérias sensíveis ao magnetismo (magnetostáticas).
Após o falecimento de Mckay, em 2013, e da reprodução do mesmo tipo de estruturas com matéria inanimada por parte de outros cientistas, o debate parecia ter-se acalmado, mas justamente nesses anos confirmou-se a existência no nosso planeta de bactérias, chamadas nanobactérias, com dimensões compatíveis com a estrutura presente em ALH84001, e posteriormente foram encontradas estruturas mais pequenas, os nanóbios, formados por biomoléculas, mas que se encontram no limite da definição de organismo vivo. Em consequência, o debate renasceu com força uma vez que persistia a dúvida se no meteorito marciano observámos o resíduo fóssil de uma bactéria marciana ou se se tratava de outra manifestação da natureza, que gosta de se imitar a si própria.
O meteorito ALH84001
“Com efeito, havia grânulos de calcite com propriedades magnéticas típicas de materiais que, na Terra, são metabolizados por um tipo de bactérias sensíveis ao magnetismo.”