O macho

Escrito por Diogo Cabrita

Um macho é, por natureza, um tipo que deseja mais do que aquilo que pode. Um macho alfa quer marcar os terenos à sua volta, debandar os outros machos, construir a vara, a manada, o cardume, o rebanho, a alcateia, sempre apinhado de fêmeas férteis.
Contrariamente às tradições de amazonas como a abelha-mestra, ou a matriarca, o homem macho tem uma cultura própria em torno da musculação, da conversa carregada de tiros, de marcação de mulheres como o cowboy riscava mortos na coronha da pistola. O macho é um fascínio, gaba-se de conquistas como canta o grilo na noite, refere um desejo interminável, uma vontade fértil sempre acesa e vive como se o sexo fosse um pirilampo a alumiar o caminho.
O masculino muito marialva conta histórias de aventuras heroicas, refugia-se entre mirabolantes discussões fúteis de futebol e outros lugares de marcar fronteira. Tem um partido e só gosta daquele, tem um clube e só tolera vitórias dele. O macho coça-se marcando a calça no períneo, brinca com o órgão quando urina, desenha bonecos na areia, vai ao ginásio, apouca o marido das mulheres bonitas, ridiculariza os fracos. A postura do macho é a do cabide, em parada, em formação. No carro, o macho é um buzinador, um intrometido, um toureiro que afasta e empurra a golpes de volante. Num sonho o macho nunca é soldado. Macho é capitão para cima. Na rua ele vê as mulheres todas como joaninhas e borboletas. Muitos destes garanhões bebem de modo insaciável, fumam bastante, falam grosso e trovejam na contrariedade. O macho é um animal em vias de extinção e falta saber se deve ser preservado. Alguns dirão que devemos criar coutadas para os marialvas e os de pelos abertos no peito. Que fazer do estilo com medalhão no peito com camisa aberta? Que fazer dos que deixam crescer a unha do mindinho? Como classificar os que mordem o palito no canto da boca? O macho zangado é coisa digna de ser ver, ginga, meneia-se, ruge, ameaça. O macho em conquista ainda é melhor. Olhar malandro, conversa picante, elogios da sua capacidade, atrevimento. Deveriam ter quotas no ensino superior? Na política? O machão morre com as joaninhas, os pirilampos e os grilos se não fizermos nada.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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