O inverno está a chegar

Escrito por Pedro Fonseca

“(…) todos sabemos que vêm aí tempos difíceis. O que ainda não sabemos é a duração e o impacto que esta nova crise terá nas nossas vidas.”

Os dias de calor atípicos de outubro vão adiando a sua vinda, mas o inverno está a chegar e será duro. A guerra da Ucrânia reacendeu o clima de confrontação entre o Ocidente e a Rússia, lançando o mundo para um círculo vicioso nefasto que afeta a vida de centenas de milhões de pessoas.
A guerra não tem fim à vista e as probabilidades de escalar para um conflito de dimensão mundial ou de envolver armamento nuclear estão a aumentar, conforme se percebe pelos discursos dos protagonistas, começando pelo próprio Putin. Ainda não nos livrámos por completo da ameaça pandémica e já paira sobre nós uma outra ameaça de feição apocalíptica.
O duelo de sanções e restrições entre o Ocidente e Rússia está a obrigar a Europa a encontrar fontes de fornecimento de energia alternativas. O processo não tem sido fácil. Incapazes de delinearem um caminho comum para resolver a crise climática, os mesmos decisores políticos têm agora, em muito pouco tempo, de encontrar soluções para uma crise energética sem precedentes.
Se o preço da energia sobe, tudo sobe. A taxa de inflação está a atingir valores históricos em vários países europeus, com muitas indústrias e empresas sem saberem como vão continuar a laborar e muitas famílias sem saberem como vão aquecer os seus lares ou colocar comida na mesa. À interminável crise das dívidas soberanas junta-se agora uma crise de inflação avassaladora.
A economia mundial já entrou em recessão devido a conjunturas menos gravosas. Por isso, todos sabemos que vêm aí tempos difíceis. O que ainda não sabemos é a duração e o impacto que esta nova crise terá nas nossas vidas.
Como os cenários de crise económica foram sempre o palco preferencial para o crescimento de movimentos extremistas, as potenciais consequências do foro político-ideológico poderão ser verdadeiramente trágicas. A vitória de Giorgia Meloni em Itália era o passo que faltava para a normalização da extrema-direita na Europa. Desde as décadas de 1920 e 1930 que o risco de tantos países do Velho Continente sucumbirem à ascensão da extrema-direita não era tão elevado.
Conseguir diminuir esse risco está quase inteiramente nas mãos dos governos nacionais e da União Europeia. Na resposta à atual crise irão privilegiar a resolução estrutural dos problemas ou procurarão apenas mitigar e minimizar os seus efeitos?
Se as medidas a implementar penderem predominantemente para esta última opção, as Melonis, as Le Pens e os Venturas agradecem. Agradecem e retribuem, juntando à severidade do inverno a reminiscência de um passado que julgávamos morto e enterrado.

* Historiador, ex-presidente da Federação do PS da Guarda e antigo vereador da Câmara da Guarda

Sobre o autor

Pedro Fonseca

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