O interior que muda e O INTERIOR que o testemunha

Escrito por Ana Abrunhosa

“É com este O INTERIOR que contamos para informar o interior dos planos que vamos concretizar. De como vamos dotá-lo da tecnologia que o torna mais competitivo, trazer-lhe a inovação que pode criar ou regenerar a sua massa empresarial e desenvolver a sua capacidade produtiva, da melhoraria no acesso aos serviços públicos que têm de servir de igual forma e com a mesma qualidade e eficácia todos os cidadãos. “

Mais de duas décadas separam o nascimento do jornal O INTERIOR e o momento em que nele escrevo. Durante este período assistimos a um desenvolvimento notável do país, a um empoderamento das nossas regiões, a um rejuvenescimento das aldeias, vilas e cidades. Basta sair de Lisboa para o perceber. O nosso território tem agora maior dinamismo económico, mais e melhores infraestruturas, maior oferta turística e cultural, gente mais qualificada, com maiores competências e ambição.
Nunca, como agora, se olhou com tanto interesse para o interior – e, atrevo-me a dizer, de uma forma construtiva pela primeira vez: aproveitando as condições favoráveis para diversificar a sua base económica, estimulando dinâmicas que já foram criadas com uma visão de longo prazo, sem nunca trair a sua tradição e História – elementos que compõem a sua riqueza e autenticidade. Hoje estamos a valorizar os produtos endógenos, transformando-os – com ciência, tecnologia e conhecimento – em produtos de valor acrescentado. Apostamos no ensino superior que já existe fora dos grandes centros urbanos, de elevadíssima qualidade e grande reconhecimento internacional, para evitar que os jovens saiam das suas regiões e não regressem. Fomentamos mais redes de trabalho e mais sinergias entre autarcas e empresários para benefício dos territórios.
Obviamente que continuamos a ter problemas que décadas de inércia ou resignação deixaram acumular, como o abandono de partes do território e a perda de população. Superar esses problemas pode demorar tempo, mas não desistimos de dar passos firmes para os contrariar.
O INTERIOR foi testemunha de toda esta transformação – lenta, mas irreversível. Vinte e dois anos depois, continuamos a celebrar o jornal que sempre foi a voz da sua comunidade, sempre refletiu os seus bons e maus momentos, e deu nota das suas dores (mesmo que dores de crescimento). O jornal que teve e tem um importante papel na denúncia dos problemas, na antecipação de debates essenciais para o território e para a região, e que serviu de radar para novidades e tubo de ensaio para soluções. Que formou opinião, incentivou à participação cívica e que foi e é o divulgador por excelência do que aqui se faz – e tanto se faz aqui que merece notícia.
É indiscutível que só uma imprensa livre, atenta e reivindicativa, dá aos cidadãos capacidade para fazer escolhas e participar nelas. Por maioria de razão, a uma escala de maior proximidade, a imprensa regional cumpre um papel efetivo de coesão. Dando cobertura aos assuntos que dizem respeito à comunidade, levando a todos notícias que a agenda mediática nacional não consegue abarcar, ligando os nossos emigrantes às suas terras, e dentro delas, os habitantes que estão dispersos.
É com este O INTERIOR que contamos para informar o interior dos planos que vamos concretizar. De como vamos dotá-lo da tecnologia que o torna mais competitivo, trazer-lhe a inovação que pode criar ou regenerar a sua massa empresarial e desenvolver a sua capacidade produtiva, da melhoraria no acesso aos serviços públicos que têm de servir de igual forma e com a mesma qualidade e eficácia todos os cidadãos. De como queremos atrair trabalhadores mais qualificados e massa crítica necessária para germinar projetos diferenciadores, mesmo nas atividades tradicionais. A lista de tarefas é grande, mas a vontade de não deixar ninguém para trás é ainda maior. Porque sabemos como somos os construtores do nosso próprio desenvolvimento.
Apesar da pandemia, da instabilidade política internacional, dos obstáculos que têm surgido, mantemo-nos atentos ao essencial. O interior é uma alternativa para viver e investir, um modo de vida e uma lição a aprender. E O INTERIOR existirá enquanto mantiver viva esta identidade, que é simultaneamente marca e missão. Porque, cada vez mais, ser do interior é motivo de orgulho e não de inferioridade.
Aos dois Interiores – o jornal e o território, umbilicalmente ligados – os meus parabéns. Que o jornal continue a ajudar na missão de um território mais justo, com mais reconhecimento e poder de atratividade.

* Ministra da Coesão Territorial

Sobre o autor

Ana Abrunhosa

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