O interior de Portugal e a sua extinção

Escrito por Jornal O Interior

Falar do interior, hoje, é falar da desertificação humana, do abandono, da perda de rendimentos, do desemprego, do fecho dos tribunais, das escolas, dos hospitais, das Juntas de Freguesia e demais serviços públicos, do fecho do comércio, da indústria, da agricultura pobre e, consequentemente, da sua extinção a prazo…
Todos os anos os concelhos do interior perdem população, consequentemente eleitores, quer pela morte de idosos, quer pelos nascimentos que não surgem devido a escassez e pobreza da população jovem, quer pela emigração e migração dos jovens desencantados por falta de trabalho e um rendimento mínimo que sustente a sua família…
O único setor de atividade económica é agricultura pobre, com explorações de reduzida dimensão, com solos extremamente pouco produtivos, com pouca ou nenhuma água, onde sobrevivem espécies indígenas com dificuldade em subsistir nas temperaturas elevadas do Verão e negativas do Inverno, quanto mais produzir frutos para o seu proprietário se alimentar e ou poder vender para o seu sustento!
O que é mais irritante, como diz o nosso Presidente da República, é que os poderes públicos que administram o Estado assobiam para o lado, fazem que não veem porque não querem ver e nada fazem para enfrentar este desafio de forma a inverter esta trajetória suicida desta parte do nosso território.
O interior não tem votos suficientes para inverter o resultado das eleições, logo, é esquecido, humilhado, desconsiderado, ostensivamente abandonado, dando lugar aos designados incêndios florestais que matam as pessoas, a fauna e flora ainda existentes, como aconteceu nos dois últimos anos.
Em mais de 40 anos de democracia foram dezenas os ministros empossados no Ministério da Agricultura, porém, a agricultura está pior hoje na sua rentabilidade e porquê?
No interior, a maioria dos terrenos são de sequeiro, pobres, pelo que, na nossa modesta opinião, as explorações deviam ter, pelo menos, uma dimensão mínima de 50 hectares de solo agrícola, classe C (porque o A e B é raro), para sustentar uma família, o que pressupõe uma estruturação fundiária da terra, por ser um bem económico;
Ora, 90% das explorações, são de reduzida dimensão não atingindo a dimensão mínima para uma jovem família cultivar a terra e receber um salário mínimo de rendimento!
Por outro lado, se as explorações tiverem dimensão, existem dificuldades acrescidas com o custo das portagens, por se situarem longe dos mercados, com os transportes, porque as empresas distribuidoras, transformadoras e o público consumidor fica a centenas de quilómetros de distância, acrescentando ainda a ausência de infraestruturas no mundo rural porque os municípios não têm estradas de acesso e pontes para que um camião de 26 toneladas e 14 metros de comprimento venha carregar às explorações.
Os municípios são os donos das estradas municipais, mas, tal como o Governo, na sua maioria não querem saber dos pedidos dos empresários para resolver estes problemas porque os empresários não têm votos para lhes dar, e uma simples festa de fim de semana rende mais votos…
Acresce ainda que a legislação publicada pelo Governo é nacional, não exceciona o interior nos mais amplos aspetos, pelo que o interior, hoje, não tem condições de competitividade…
O interior paga, genericamente, as mesmas taxas do litoral, os mesmos impostos, tem de cumprir com todos os custos da burocracia, agravados pela falta de infraestruturas e acessibilidades, sem médicos, enfermeiros, hospitais, professores, técnicos, mão-de obra qualificada, com os funcionários públicos e policiais a espreita duma contraordenação para satisfazer a avidez dos chefes que querem mostrar serviço, em nome do Orçamento do Estado e dos orçamentos municipais…
Assim, é praticamente impossível trabalhar nas terras do interior do pais… Pelo que se os Governos e municípios, sejam eles quais forem, não facilitarem o trabalho dos agentes económicos e reduzirem os respetivos custos, impostos e taxas o interior resumir-se-á futuramente e tendencialmente a uma terra de ninguém… Uma terra de giestas e floresta, espontânea, desordenada, para arder de cinco em cinco anos na melhor das hipóteses!!

Teodoro Farias, carta recebida por email

Sobre o autor

Jornal O Interior

Leave a Reply