O grande dia do desconfinamento

Escrito por António Ferreira

“Tudo visto, pergunto-me se valia mesmo a pena irmos agora para eleições e se o Orçamento para 2022 era tão mau assim.”

Domingo votamos, estejamos doentes com Covid ou não, estejamos confinados ou não. Com muitos menos casos por dia ficámos confinados em 2020 e 2021. É verdade que estamos quase todos vacinados e que a variante agora dominante parece menos perigosa, mas 50.000 casos por dia é muita gente! Julgamentos estão a ser adiados, turmas inteiras entraram em confinamento e o teletrabalho passou a ser obrigatório, mas votar é uma exceção. E porque vamos votar? Porque o orçamento apresentado por António Costa para 2022 é demasiado de direita para o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista e demasiado de esquerda para os outros. É verdade? Não sei. Só sei que não vamos ter orçamento, de esquerda ou de direita, antes de maio ou junho – que é quando deveria começar a ser pensado o orçamento para 2023.
Que nos propõem os vários partidos em alternativa a esse orçamento que seja tão bom que justifique mais uns milhares de contaminações pelo simples exercício do direito de voto? O PSD regressa com o velho tema do “choque fiscal”, com reduções de impostos capazes de relançar a economia. Excelente, mas ainda me lembro de promessas semelhantes, e não cumpridas, de Durão Barroso e Passos Coelho.
O Partido Comunista e o Bloco de Esquerda propõem os habituais aumentos de salários e pensões sem esclarecer, como é também habitual, como vão o Estado e a economia suportar o custo. O Livre sugere que passe a ter direito a subsídio de desemprego quem queira mudar de vida, ou simplesmente pretenda umas férias prolongadas. A Iniciativa Liberal quer privatizar o ensino e a saúde, mas que o Estado continue a pagar a fatura. O Chega quer meia dúzia de coisas mesquinhas e irrelevantes para os verdadeiros problemas do país e o CDS apenas pretende manter-se com representação parlamentar. Quanto ao PS, quer aplicar o orçamento que já tinha preparado para 2022. Para além, claro, de tencionar continuar a enterrar milhares de milhões de euros na TAP e no Novo Banco. Ninguém explica muito bem o custo e o modo de financiamento das suas propostas, ou, dito de outra forma, o que vamos deixar de ter para recebermos o que oferecem.
Tudo visto, pergunto-me se valia mesmo a pena irmos agora para eleições e se o Orçamento para 2022 era tão mau assim. Na campanha ninguém explicou porquê, assim como não justificou a urgência de terminar agora a legislatura. Uns quereriam cumprir o mandato, outros querem chegar já ao poder e ambos querem gastar o dinheiro do PRR.
Eu sou mais modesto: gostaria que fossem todos castigados pelo mal que nos fizeram; não queria ter eleições agora; vou votar mas não queria apanhar Covid-19.

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António Ferreira

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