A Câmara de Viseu está disponível para adquirir nas freguesias rurais do município casas devolutas, ou em estado de ruína, para as reabilitar e depois disponibilizar para famílias, numa estratégia de reforço do mercado de arrendamento e, principalmente, para contrariar o despovoamento em algumas zonas no concelho.
Segundo uma notícia do “Observador”, o município viseense, através da Viseu Novo e da empresa municipal Habisolvis, compromete-se desde logo a avaliar a possível aquisição dos imóveis. E, nos casos que tal se apresente como viável, em adquiri-los e reabilitá-los para os usar como forma de atrair população para as freguesias que, nos Censos 2021, revelaram estar a perder habitantes.
Esta é a forma como Viseu está a mobilizar uma nova geração de políticas autárquicas para combater um dos flagelos do país interior: o despovoamento rural e periurbano. Também o Fundão, outro exemplo, vai ter políticas fortes de atração e fixação de população residente, tendo apresentado candidaturas que somam 30,5 milhões de euros ao programa de apoio a projetos de habitação a custos acessíveis.
Na Guarda, infelizmente, não se passa nada de semelhante. As políticas autárquicas são as da mais velha geração: como já não faltam fontanários, são sobretudo excursões e arraiais, entre outras manifestações de provincianismo.
Como há uns meses defendi nesta coluna, as aldeias em desertificação têm sido as órfãs afastadas do processo de qualificação urbana que, um pouco por todas as vilas e cidades, se tem desenvolvido no país. É tempo, pois, de o município da Guarda desenhar uma estratégia de povoamento e de redinamização das suas aldeias com mais potencial para constituírem um segundo anel de residências permanentes da classe média que trabalha e estuda na cidade.
Como escrevi na altura, não basta arranjar a pequena praça, embelezar uma fonte ou pôr casas de banho no jardim no centro da aldeia. É preciso apostar a sério na reconfiguração do parque habitacional, seja para venda, seja para arrendamento – tal como está a fazer Viseu – e fomentar as condições mínimas para que haja atividade económica: minimercados, cafés, pequenas lojas multiusos que possam, por exemplo, funcionar como filiais de estabelecimentos da cidade que abram as portas em certos dias da semana.
É preciso ter visão, alguma imaginação, iniciativa política. Dar atenção às aldeias não é frequentar as suas tascas. É trabalhar politicamente na sua qualificação para que essas aldeias – pelo menos algumas delas – possam ter futuro.
* Dirigente sindical e presidente distrital da SEDES Guarda