A charla popularizada vai para cinquenta anos procurava vincar, em jeito de caricatura, os traços marcantes da sociedade portuguesa de então, particularmente o atraso educacional do país.
Era a sociedade dos três “F” – “Fado, Futebol e Fátima!” –, assim caracterizada com o sentido crítico da denúncia dos fatores marcantes do amortecimento da inquietação social e política do país de então. O problema é que quando olhamos para o Portugal de hoje, democrático de há mais de 46 anos, aí está sempre o futebol a absorver o dia a dia dos portugueses e a dominar a imprensa diária. Pior, assistimos hoje à futebolização da política, quero dizer, a diferença política já não se estabelece na fronteira ideológica, mas na vulgar visão maniqueísta entre os nossos, os bons, claro, e os outros, os maus, está visto!
Que o fado emergiu, emancipando-se da grilheta reacionária com que o quiseram marginalizar, dúvidas não restam, e é hoje marca do país e da internacionalização de Portugal. E por fim Fátima e a religiosidade continuam ainda hoje a marcar a nossa sociedade, se calhar com força redobrada e em particular com reforço significativo do turismo religioso. Sobe Fátima quando toda a economia capitula! Pois aí está “O fado induca e o vinho é que instroi!”
É, porém, no domínio da Educação que a marca diferenciadora para a sociedade de então mais se acentua, em que o progresso mais se evidencia. O problema ressurge quando vemos os pais a demitirem-se da função educativa, fazendo da escola o depósito dos meninos e professores a recusarem a função formativa, então dá vontade de gritar outra vez “O fado induca e o vinho é que instroi!”
Claro que o vinho já não é “carrascão”, nem falo sequer das “sopas de cavalo cansado”, falo hoje de uma produção vinícola de alto nível e medalhada a nível mundial, ora bem! Este texto é, em parte, autoria do meu saudoso amigo Joaquim Gil e eu limitei-me a mudar a pontuação e alguns tempos verbais, e mais umas coisas!