Objetos e gestos e temporalidade convocam uma discussão do nosso espaço na vida. Existimos para viver o hoje e o agora sem tempo, enquanto a saúde nos acompanha? Somos dessa estrutura de trabalhar para usufruir dos tempos livres em cada agora? As construções e as compras que fazemos nesta perspetiva são uma contradição que se convoca para o trajeto do eu imediato. Para que deixo aquele muro, aquela estante, aquele lugar sonhado? A finitude da nossa existência terrena pode ser uma mensagem de sossego, de acautelar os ímpetos de construir e de aquisição. Adquirir teria um fim de negócio para permitir viver sempre o tempo imediato. Reduzir a memória, não marcar os lugares, não impor um histórico. Esta ideia é a contrária da presença icónica que deixa pré-existências, que convoca a obra, a coleção, a presença prolongada para o espaço do viver.
– Não ficou nada dele, e se houve pessoa que viajasse, lesse, estudasse.
Este eu que parte sem biblioteca, sem discoteca, sem casa, sem pomar, sem vinha, sem castelo, sem carro, sem fotografias é um ser etéreo, volátil, que dura o tempo da memória dos outros. Assusta? É a vida sem o compromisso, sem a marca de água, sem a projeção no eu na continuidade. Mete medo? Nem assusta nem amedronta porque é um viver de agora, de prazeres constantes. Amores, sucessos, momentos por onde escorre uma vida sem presenças, sem rasto. Por pedras usaram-se velas acesas. Em chama viva, atravessou esta vida. Esta leveza convoca para a outra existência que quer fixar-se em história, em rasto de compras, em prazeres intemporais. Imaginemos dois nomes e dois irmãos assim diferentes.