O estado de alarme está de volta

Depois de semanas convictos de que Portugal estava a fazer frente ao Covid-19 com sucesso e tranquilidade; depois de semanas de aplauso público a tudo e a todos, porque todos estavam de “parabéns”, fomos “cilindrados” pelas notícias de que a Dinamarca e mais um dezena de países fechavam as suas fronteiras a Portugal por termos mais de 20 infeções por 100 mil habitantes por semana (só a Suécia regista mais novos infetados do que Portugal).

Na verdade, nem fomos extraordinários na resposta à pandemia em março, nem agora temos uma situação descontrolada. Os profetas da desgraça que aprendam a viver com o “novo normal”, em que todos os cuidados serão poucos, mas o país não pode voltar a entrar em confinamento, porque temos de regressar “à vida”, pela sobrevivência das pessoas, das famílias, da economia, pelo turismo, mas especialmente porque quem não trabalha no Estado e não tem salário assegurado tem de adaptar-se ao “novo normal” e continuar… Quem tem o seu negócio está falido; quem trabalha nos serviços, na construção-civil, no campo, nas fábricas, nos transportes, e em tantos outros sectores, tem todos os dias de sair de casa, como o fez durante os meses de pandemia, para ir trabalhar, produzir e ganhar para comer, para pagar as despesas diárias, para dar de comer aos filhos, para sobreviver apesar do vírus. Todo o cuidado é pouco, mas se todos formos cuidadosos é possível recuperarmos a normalidade.

Em Espanha, durante duas semanas, não houve atualização dos dados; a maioria dos países da Europa separou a morte por Covid-19 da que ocorria por outras doenças, mesmo que também infetados pelo novo coronavírus; os líderes portugueses, na sua irresponsável prosápia e vontade de voltar ao normal e ao “está tudo bem”, deram um mau exemplo entre os espetáculos do Campo Pequeno e a “festa” da Champions, que os jovens seguiram e as consequências estão à vista. Mas aprender com os erros não é defeito, pelo que as autoridades têm de corrigir algumas opções, tomar medidas por região (inclusive com cordões sanitários concelhios ou distritais) e não se porem em bicos de pé cada vez que há uma vitória, porque a filosofia de vida atual, das palmadinhas nas costas e dar os parabéns por tudo e por nada, não nos leva a lado nenhum. … E acabou o ano letivo! Inacreditavelmente, no novo normal foi normalizada a ideia do ensino à distância e silenciado o erro de abrir creches e jardins-de-infância e manter encerradas as escolas primárias, preparatórias e secundárias – mais importante e porventura menos perigoso seria abrir as escolas a crianças com mais de 6 anos, mas a voz dos sindicatos dos professores é mais forte.

Durante mais de três meses as crianças e adolescentes não tiveram escola, não aprenderam, não conviveram, não brincaram, não cresceram, não evoluíram no seu habitat, a escola. Houve crianças que receberam um email por semana com fichas e perguntas, mas nem receberam as correções; houve professores que se esforçaram imenso neste novo normal para as crianças aprenderem e houve professores que não deram aulas síncronas, que não quiseram aprender a trabalhar com plataformas ou sequer com computadores – deviam mudar de vida e deixar o ensino para quem se reinventa todos os dias; houve pais que reclamaram e houve outros que nem deram conta que os seus filhos não tinham escola, nem aprendiam.

Foi um ano perdido e que não se pode recuperar, especialmente para as crianças que foram encerradas num confinamento indesejado, numa crise pandémica que destroçou sonhos e anseios, que matou a aprendizagem e a evolução, que tragicamente deixou uma marca negativa em todos. Esperemos que em setembro a escola regresse, que os professores e alunos recuperem o ânimo para que as novas gerações rapidamente recuperem o tempo perdido. Se assim não for será uma tragédia para os mais jovens! Será uma tragédia para o país! Se a escola não voltar em setembro será uma catástrofe que não podemos permitir!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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