12 de novembro de 2014. O robô “Philae” acaba de aterrar no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko depois de mais de dez anos e 6.400 milhões de quilómetros percorridos junto da nave “Rosetta” da Agência Espacial Europeia. É a primeira vez na história que se consegue tamanha proeza. Ambos os engenhos estão a 450 milhões de quilómetros do Sol, pelo que não há nada que possa por a missão em perigo: recolher pela primeira vez dados in situ na superfície de um cometa. Enquanto tem bateria dedica-se a realizar experiências para analisar a composição da superfície e do núcleo do cometa. Os instrumentos do “Philae” detetam vapor de água, monóxido de carbono e dióxido de carbono. E, o mais importante, localizam compostos orgânicos ricos em carbono, entre os quais alguns com um papel essencial na síntese pré-biótica de aminoácidos, açúcares e bases de ácidos nucleicos, os ingredientes da vida. Um deles, o formaldeído, está envolvido na constituição do ADN. Tendo em conta que os cometas remontam à época de formação do sistema solar, a sua composição indica que estas moléculas orgânicas existem há mais de 4.500 milhões de anos.
Falar de vida implica falar de água, de oxigénio, mas, sobretudo, de carbono. Daí que a “Philae” procurasse identificá-lo desesperadamente no cometa 67P. Atualmente é quase consensual que o carbono é o elemento mais versátil da tabela periódica. Na sequência química do nosso filme do planeta azul, o carbono interpreta um papel principal, porque nenhum outro elemento possui estruturas moleculares tão ricas nem funções moleculares tão diversas. E isso deve-se ao facto dos seus átomos serem bastante sociáveis em termos químicos. Ou seja, possuem uma capacidade inigualável de se unirem tanto a outros átomos de carbono como a outros elementos, sobretudo hidrogénio, oxigénio, nitrogénio e enxofre, com os quais podem formar até três ligações simultâneas. A partir destas uniões, formam-se longas cadeias de átomos, anéis, ramos complexos, esferas perfeitas com 960 átomos chamadas “fulerenos”, complexos, esferas concêntricas, com uma estrutura em camadas semelhantes à cebola, chamadas “fulerenos complexos”, nanotubos cilíndricos e quase todas as outras formas imagináveis.
A esta diversidade de formas junta-se outra grande vantagem: é que apenas as moléculas baseadas em carbono reúnem duas características essenciais da vida: a capacidade de se replicar e a capacidade de evoluir. Um sensacional ponto de partida para construir organismos.
O elemento da vida
“A esta diversidade de formas junta-se outra grande vantagem: é que apenas as moléculas baseadas em carbono reúnem duas características essenciais da vida: a capacidade de se replicar e a capacidade de evoluir. “