Ao que parece o 112 passa a ser transfronteiriço. Liga-se para lá e a ambulância, espanhola ou portuguesa, que estiver mais perto será a que fará o socorro nas localidades de fronteira. A estratégia de desenvolvimento comum passa por englobar mais de um milhar de pueblos e freguesias que poderão ver criado o estatuto de trabalhador transfronteiriço (isto é se ainda houver gente e, a havê-la, gente em idade ativa de trabalho).
À parte disso, a Cimeira Ibérica ficou abençoada pelo nevoeiro e o convite, apenas a alguns, que, em tempo de pandemia, resolveram passear-se na consentida passerelle de vaidades (é só ver o face de uns poucos), onde a localidad de Guarda (telediário da TVE) foi rainha das notícias por um só dia.
O investimento transfronteiriço foi visivelmente esquecido. O investimento no interior do nosso país também. Os itinerários complementares idem, aspas, aspas. Os corredores viários e ferroviários sem qualquer referência. O tal porto seco, nicles batatóides. A desusada e estúpida opção nuclear espanhola, nem palavra. O términus do pagamento de portagens na A23 e A 25, conversa de treta. A rutura completa de serviços, caso da Cardiologia, Oftalmologia, Ortopedia, a desmotivação dos seus profissionais, o caos nas Urgências, faz com que, mais dia, menos dia, o Sousa Martins se assemelhe a um vulgar Centro de Saúde onde o teste à Covid será apenas o exame rei, acerca disto nem pio.
Neste processo do tal “epicentro de projetos” entre Portugal e Espanha verifica-se que a dupla Sánchez/Costa aqui esteve para cumprir calendário gastando uma pipa de massa com um espetáculo à Antígona, ainda por cima, mal encenado.
Diz o povo e bem “depois da tempestade vem a bonança”. Depois do fogo-de-artifício vem o rescaldo. Rescaldo esse que trouxe consigo efeitos secundários e consequências políticas mais que previsíveis. Numa equidistância política, no cumbre desta cimeira, ficaram de fora uma quantidade significativa de atores que deveriam fazer parte integrante do episódio.
Assim, assumiu-se o lado errado do dia D (que me desculpe o Jorge Palma), alguém levou com os pés (se calhar) pelo telefone e, o esperado aconteceu: a contestação ganhou forma, o caldo voltou novamente a entornar e, mais uma vez, o ajuste de contas foi acionado, vindo ao de cima a culpabilização de quem não soube, não quis, ou não teve o tacto político necessário com vista a ambicionar a miragem da tal palavrinha, com onze letras, que anda por aí à solta, de boca em boca, e, ao que parece, tá na moda: candidatura.
A somar à ética, à coerência, ao projeto, é necessário saber adicionar timings, mais a circunstância do Gasset, a doutrina maoísta dos adversários, o engenho e arte de Camões, a inteligência, a perspicácia e, quem anda nesta vida, comer muitas vezes o pão que o diabo amassou ou, adicionar a citação de Cunhal, “engolir sapos vivos” e, isto sem esquecer a teoria da mulher de César.
Mas se laranjina (sem) C está em completo caos, com fanicos sucessivos, sinceramente ainda não percebi a estratégia dos rosados: será uma questão de tempo, estão a ver para que lado pende o poder, quem será o candidato, ou haverá dificuldade em definir qual dos “inhos” pode ganhar a coisa… É que o Zé, fartíssimo de aturar os ativistas amarianos das festas, das rotundas, do folclore político e das acusações baratas, pode muito bem passar o seu voto para o melhor dos “inhos”.
Neste “reality show”, à boa maneira do “far west”, nem os protagonistas americanos conseguem superar estes admiráveis atores egitanienses. Só que na América despacham isto daqui a três semanas e, nós, por cá, ainda temos que os aturar quase um ano… Há pois, é obra.
O cumbre da cimeira
«Neste processo do tal “epicentro de projetos” entre Portugal e Espanha verifica-se que a dupla Sánchez/Costa aqui esteve para cumprir calendário gastando uma pipa de massa com um espetáculo à Antígona, ainda por cima, mal encenado»