O comboio e a vocação logística da Guarda

Escrito por Acácio Pereira

O desenvolvimento local e regional depende de vários fatores, mas há dois que, em geral, são determinantes: a capacidade de produzir inovação em determinado setor; e ser prioridade dos poderes políticos local, regional e/ou nacional.
Isto é central para a oportunidade que representa para a Guarda especializar-se em logística. A experiência de consumir a partir de casa ou da empresa por meios digitais que dispensam deslocações e presença física mudou estruturalmente, quer os modos de consumo, quer os abastecimentos empresariais.
Vem isto a propósito de a Guarda ter uma conjugação única de fatores que a vocacionam para ser um grande centro logístico da Península Ibérica. Tem a confluência de três autoestradas – o IP2 Bragança-Guarda; a A25 Aveiro-Espanha; e a A23 Lisboa-Guarda – e de três linhas férreas: Linha da Beira Baixa, Linha da Beira Alta e, através desta, a ligação a Espanha e a França.
São estas ligações a Lisboa, ao Porto e a Espanha que despertaram na APDL – Administração dos Portos de Douro, Leixões e Viana do Castelo o interesse de expandir a sua zona de influência para o interior de Portugal junto à fronteira com Espanha, criando um eixo mercantil rodo-ferro-portuário entre a Guarda e a Área Metropolitana do Porto. Foi assim que nasceu o projeto do Porto Seco da Guarda.
Ora, se bastassem as condições naturais e a existência de infraestruturas, o problema estava resolvido: o comboio é um meio de transporte com potencial para ser um motor de desenvolvimento económico, social e ambiental – e as autoestradas fariam o resto.
O problema é que o potencial logístico da Guarda marca passo e o comboio não tem tido poder transformador na economia local nos últimos anos. A convergência da região da Guarda para a média nacional tem sido feita quase sem contributo do “cluster” ferroviário.
É certo que o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) se tem desdobrado em investigação e produção de conhecimento na área da logística, abrindo licenciaturas, cursos técnicos superiores profissionais (CTeSP) e pós-graduações. Mas falta a este desígnio a prioridade política que, por razões inexplicáveis, não tem recebido, nem dos governos da República, nem da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro (CCDRC), nem da Câmara Municipal da Guarda.
Não basta ter potencial. Não basta ter comboios, tal como não basta ter autoestradas. Não basta ter o Politécnico da Guarda como aliado. Sem prioridade política para a logística por parte do Governo de Lisboa e da Câmara da Guarda, este potencial económico guardense continuará adormecido.

* Presidente do Conselho Distrital da SEDES Guarda

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Acácio Pereira

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