Cada novo ciclo eleitoral obriga os políticos a olhar, sempre com desconforto, para a outra face do país, deserdado dos benefícios do progresso e do desenvolvimento, que esqueceram durante a legislatura.
Sentimento e remorso, transversal à sociedade política da direita à esquerda.
Mas é uma fase passageira. Mal voltam a Lisboa e aos encantos sedutores da capital, logo sucumbem para defenderem as mesmas políticas centralistas de sempre.
Na lógica da racionalidade económica, do deve e haver, do produto e do défice, não cabe o investimento no interior. O que espanta é a falta de indignação de todos os que vivem, trabalham e investem no interior tão sofridamente.
E sempre que nos pronunciamos até parece que as palavras saem com pedido de desculpas, como se tivessem estatuto de minoria.
A evidência de todas as experiências de sucesso no combate às assimetrias regionais na Europa demonstra que é necessário um acordo estrutural e amplo dos principais partidos, que se concretize em várias legislaturas, um plano a médio prazo, com metas definidas, políticas transversais, de natureza fiscal, económica, social, educacional, entre outras, em que os investimentos financeiros alocados, faseadamente, sejam monitorizados, comprometendo politicamente os decisores.
Por isso, sempre que nos falam de que agora é que é, sem evidência de qualquer plano ou acordo estrutural, estão a mentir. As campanhas partidárias, no que diz respeito à agenda do interior, não passam de um ciclo eleitoral de mentira e sedução serôdia.
Eles contam com a nossa tradicional reverência e abusam dela.
* Antigo presidente da Câmara de Trancoso e presidente da mesa da Assembleia Distrital do PSD da Guarda