O chouriço e a salsicha

Escrito por Diogo Cabrita

O sucesso do chouriço em relação à salsicha. Eu gosto de chouriço com alguma gordura, após lambido por chamas de brandy. O chouriço cai na broa esfregada com lâmina de queijo da Serra, e sabe tudo a pedaços de céu. Já a salsicha é um sabor intenso, específico, que mata a broa e mata o queijo. Salsicha é para levar batata frita. Salsicha carece de temperos enfrascados como “ketchup” e maionese, ou mostarda. Salsicha pode ir no pão e faz o cachorro-quente – o “hotdog” das carrinhas espalhadas na cidade. Vê-se menos chouriço. Carripanas de chouriço não há. A importância deste, a sua força física, é evidente na brejeirice que o inclui. Parecia um parco insulto “dar-lhe com a salsicha”.

– “Apanhas com o chouriço” – é bastante mais eloquente e talvez picante.

Esta é a força da portugalidade. O chouriço, no linguajar, é coisa de homem. O chouriço é um alimento anti “woke”. A salsicha é arco-íris. Portugal tinha a produção ao estilo Frankfurt, nas latas Nobre – uma elegância que ainda se vende bem. As primas das salsichas enlatadas são as salsichas frescas. Como todos os enchidos do sul da Europa levam sal, a maioria são fumados, e podem ir das alheiras à morcela, e são petiscos dos deuses. Para lá disso são da sustentabilidade económica, pois vivem de carnes de segunda com tratamentos artesanais delicados. O chouriço é o mais rijo deles todos – é o macho dos enchidos. Molda-se na delicadeza dos dedos.

Um prato que vai de encontro aos desejos da mitocôndria, carregando gordura e minerais, antioxidantes e produção energética de qualidade é este petisco: salsichas frescas com couve lombarda – sem batatas, sem arroz, sem pão. Podem acrescentar um chouriço “flambé” em aguardente. O chouriço gosta de tratos finos, apesar de parecer uma grosseria. Ele introduz-se em quase todo o tipo de alimento, bastando escolher o adequado ao prato em causa. Há chouriços para todos os gostos.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

Leave a Reply