No meio de tanto debate político, económico, sanitário e, mais recentemente, geoestratégico, concedamo-nos falar de assuntos mais saborosos e, a seu modo, também importantes.
Em primeiro lugar, reafirmar que, como em tudo na vida, vale a pena aprender com os bons exemplos. Neste caso, com os bons exemplos de Almeirim, no Ribatejo, e da Sertã, na região do Pinhal.
Há uma semana a Sopa da Pedra de Almeirim recebeu o estatuto de Especialidade Tradicional Garantida (ETG) na União Europeia. E o Maranho da Sertã foi classificado como produto de Indicação Geográfica Protegida (IGP).
As classificações foram publicadas no Jornal Oficial da União Europeia. Quanto à Sopa da Pedra, o jornal descreve «o caldo grosso, castanho-avermelhado e com muitos ingredientes» ligado à lenda de um monge que mendigou ingredientes para acrescentar a uma pedra com a qual dizia fazer sopa.
Quanto ao Maranho da Sertã, produzido neste concelho do distrito de Castelo Branco, integra arroz e produtos à base de carne (salgados, fumados) e é ensacado a partir da “bandouga”, o estômago de ovinos e caprinos.
Vem esta descrição a propósito do que os municípios podem fazer para valorizar os seus pratos mais identitários e com maior valor gastronómico, como é o caso do Caldo de Grão da Guarda. Prato emblemático do período do São João, é cultivado por muitas famílias guardenses ao longo dos meses frios e, circunstancialmente, por alguns (poucos) restaurantes.
É este prato – delicioso, diga-se de passagem – que pode ser valorizado, reconhecido e promovido pelas instituições da Guarda: Câmara, Juntas de Freguesia, associações locais, grupos (formais ou informais) ligados à restauração, à hotelaria e ao alojamento local.
Para além de carne de porco de boa qualidade (orelha, chispe e focinho), o Caldo de Grão da Guarda requer que esta esteja pelo menos três dias em salmoura. Junta-se-lhe carne de vaca, frango, chouriça, massa. Os ingredientes devem ser cozidos à parte, depois cortados miúdos e juntos ao grão na panela para apurar. Antes de servir, põe-se uma rodela de chouriça fina por cima.
Atendendo ao valor gastronómico desta iguaria, ninguém duvide do potencial da sua classificação nacional e europeia. Com base nisso, um festival gastronómico dedicado ao prato, ou um concurso entre restaurantes pelo melhor caldo, promoveria a cidade, traria muitos visitantes e, sobretudo, beneficiaria todos os guardenses com uma melhor oferta, e permanente, do seu caldo favorito.
São boas razões para seguir os exemplos da Sertã e de Almeirim.
* Dirigente sindical