As notícias quase diárias sobre problemas neste ou naquele hospital, neste ou naquele serviço, só confirmam que o SNS está a morrer. O caso da Urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta é revelador da gravidade da situação. A falta de médicos pediatras resultou no encerramento episódico, mas regular, daquela Urgência, incluindo fins-de-semana.
O Ministério da Saúde anunciou que autorizava o Garcia de Orta a abrir vagas, mas sabe-se perfeitamente que esse anúncio, depois de se ter deixado sair 13 médicos o ano passado, é o mesmo que querer dar uma perna a quem foi amputado. De facto, já houve anteriormente abertura de vagas, mas ficaram desertas. E não se pense que o Garcia de Horta só tem problemas naquela especialidade. De acordo com o jornal “Expresso”, há outras em que o problema é semelhante, como a Obstetrícia.
Em Coimbra, a situação do seu hospital é paradigmática. A falta de médicos é, mais uma vez, a causa de graves e preocupantes constrangimentos nos vários serviços. E mais grave, estamos a falar de um hospital central e não de uma unidade de saúde da periferia de uma grande cidade.
Mas por cá, na Guarda, a situação ao nível da ULS não é melhor. Não há Cardiologia durante a noite nas Urgências. O mesmo serviço tem o maior tempo de espera do país para consultas de prioridade “normal”. É preciso esperar 1.814 dias (5 anos) para se ter uma consulta de Cardiologia no hospital da Guarda, quando o aconselhável seriam 41 dias!
A Ortopedia, uma especialidade essencial em qualquer Urgência médico-cirúrgica, tem muitos dos dias da sua escala de Urgência em branco. A transferência de doentes para outras instituições começa a ser rotineira. Na Cirurgia, outra especialidade nuclear da Urgência, já é do conhecimento público que a não utilização dos tempos de bloco operatório a que tem direito são cada vez mais habituais. Da situação da Urgência é melhor nem falarmos!
O serviço de Oftalmologia, só com dois médicos no quadro para uma população que exigia quatro vezes mais, está sem diretor há várias semanas. Para citar uma recente publicação nas redes sociais, «num serviço atolado em dramáticas listas de espera e em todo o tipo de carências funcionais e operacionais, uma semana que seja sem definição acerca de uma liderança credível equivale a uma mensagem objetiva de desejo de liquidação do serviço!». A consequência disso foi a demissão de um dos médicos, há uns dias, da função pública, anunciando o colapso eminente de um serviço que já vivia ligado à máquina!
A marca de água da administração do nosso hospital tem sido o “não-decidir”. Há serviços com direções demissionárias há mais de dois anos, que continuam num vazio decisório sobre a sua liderança! Noutros, abriu-se o procedimento para a nomeação das respetivas direções, mas, a dado momento, tudo parou inexplicavelmente. Qualquer dossier que exija proatividade e rapidez é tratado com o mesmo entusiasmo com que um tetraplégico encararia ter de ir a pé da Guarda até Almeida!
Novamente em linguagem facebookiana, «O silêncio dos políticos da terra sobre o estado a que isto chegou, de todos eles, diz-nos muito sobre a teia de cumplicidades e de dependências que ao longo de anos se foi entrelaçando, colando com cuspo e nojo uma instituição que deveria ser afinal o orgulho e a verdadeira riqueza solidária de todos».
Quando o primeiro-ministro anuncia, com pompa e circunstância, o projeto para a segunda parte da obra do hospital só pode estar a gozar com a nossa cara. Não tarda muito, já não existirão valências que justifiquem tal obra! «O triste estado a que chegou a ULS da Guarda é a imagem perfeita da descrença e da capitulação de toda a sociedade civil da Guarda»! Quem vos avisa, vosso amigo é…