Estávamos em pleno Verão, numa tarde aprazível, desfrutando de um evento dedicado aos bons néctares que esta região produz, quando o secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, talvez querendo ser simpático para com o autarca que o convidou e também movido por um excesso de optimismo, disse que as obras de remodelação do Hotel Turismo arrancariam em Janeiro de 2025.
À data em que esta edição sai para as bancas faltarão dois dias para o final do mês, e como a esperança é sempre a última a morrer, é bom que aguardemos com serenidade, mas acima de tudo confortáveis pois a espera perspectiva-se duradoura.
A longa novela que completará, em Outubro, 15 anos de dramatização (nem a série “Dallas” foi tão extensa) conta a história de um hotel abandonado que a pouco e pouco se foi transformando numa chaga aberta no coração de uma cidade, posicionando-se como uma das mais ecléticas produções ao percorrer vários géneros cinematográficos que vão do terror à comédia, passando pelo suspense, aqui e ali pincelado por laivos de ficção científica.
Se calhar, o destino do Hotel Turismo já está definido e transformar-se-á numa nova atracção turística que se traduzirá num “Escaping Room” gigantesco que tem por base um hotel assombrado, ao estilo do “The Shining”, de Stanley Kubrick. Conhecendo os dotes dramáticos do senhor presidente de Câmara, será certamente um sério candidato ao papel desempenhado por Jack Nicholson no mesmo filme.
Gracejos à parte, parece-me que 15 anos é demasiado tempo para conviver diariamente com esta situação que a cada dia que passa dá uma estalada na cara dos guardenses.
O Governo tem a sua quota parte de culpa porque é o dono do imóvel e detém 51% da Enatur, sociedade que aparentemente o vai integrar na sua rede de pousadas. Para além disso, tinha a obrigação de dar uma justificação aos guardenses (e certamente haverá uma explicação plausível para o efeito) pelo não cumprimento dos prazos definidos.
Paralelamente, a Câmara Municipal da Guarda (CMG) tem também averbada uma grande dose de culpa porque tem feito muito barulho, mas tem tido pouca ou nenhuma acção, que passo já a explicar.
O executivo da CMG foi mandatado através do voto dos guardenses para agir e proceder em seu nome constituindo-se, portanto, como o principal interessado nesta matéria. Sabendo do histórico deste processo, tinha a obrigação de ser suficientemente proactivo e proficiente, mantendo 2 ou 3 planos em carteira para o caso de um falhar. Desde já, procurar investidores fora do país. Não me digam que em quase 10 biliões de pessoas no mundo não haveria meia dúzia interessada em investir na Guarda? Não me digam que nos Estados Unidos da América, na China, nos Emirados Árabes Unidos, Qatar ou Singapura não existiria um interessado em estabelecer-se na Europa a partir de Portugal, um dos mais pujantes destinos turísticos do momento? Têm de começar a sair dos gabinetes e das festas nas freguesias e procurar investidores por esse mundo fora. Isto sim é serviço público!
Quero acreditar que 2025, que agora se inicia, será um ano de esperança, nesta e em muitas outras matérias, mas acima de tudo e colocando de parte toda e qualquer tentação eleitoralista, seja o ano que devolverá à Guarda um dos seus maiores ex-líbris do século XX.
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos