1. A consagração de Pedro Nuno Santos como secretário-geral do PS foi muito mais do que a confirmação do líder, foi o lançamento de uma nova era para os socialistas. Depois de oito anos no Governo, e contrariando a necessária alternância democrática, até para o enriquecimento democrático do regime e para evitar vícios de poder próprios da perpetuação do mesmo partido no Governo durante tantos anos, os socialistas renovaram no passado fim de semana a aura e a ambição de vitória. Pedro Nuno Santos esteve em sete dos oito anos da governação de António Costa, mas o novo secretário-geral conseguiu afastar a ideia que é igual e deixou a mensagem de mudança e de esperança para o país, que seria de esperar da oposição.
Enquanto Luís Montenegro assinava um acordo de séc. XX com Nuno Melo e Câmara Pereira, para recuperar um projeto político que cheira a naftalina, Pedro Nuno Santos passava uma tábua-rasa sobre a sua longa passagem pelo Governo desde 2015 a 2022 e apagava do cenário todos os erros de que possa ter sido responsável. Enquanto o PSD se juntava à direita tradicional, que lhe valerá poucos votos, mas alguns deputados nos distritos mais conservadores, o PS virava-se para o futuro. E falava para o futuro, sobre os caminhos novos que é preciso trilhar, sobre a aposta na indústria, na escolha das atividades ou setores que devem ser apoiados, na regionalização, no desenvolvimento de “Portugal inteiro”.
O PS com uma nova roupagem assume-se como partido de poder e dominador, em que António Costa, num rasgo de estranha humildade, inventa a frase do congresso ao assumir que nem tudo foi bem feito, mas «só o PS pode fazer melhor que o PS», uma frase sem qualquer significado, mas que congrega a ideia e o sentir de que os socialistas são os únicos que podem e sabem governar. António Costa confirmou que está em grande forma política e até pode estorvar Pedro Nuno na sua intenção de limpar a ligação ao passado recente, mas vai continuar a ser um protagonista com lugar na “pole position” para a Europa ou mesmo para Belém.
Já o PSD continua à procura do seu lugar como alternativa, sem o conseguir. Com o PS a raptar a ideia de que também tem contas certas, com a redução da dívida pública e défice baixo, o PSD ficou sem discurso restando-lhe a ideia peregrina que Luís Montenegro expressou no Porto de chamar os descontentes que votaram no PS em 2021 – muito pouco para quem tem urgentemente de mostrar muito mais e tem de ser mobilizador. O PSD não pode continuar a centrar o seu discurso no ataque à governação socialista, mesmo sendo certo que as críticas ao estado da saúde, da educação ou da habitação têm de ser as âncoras do discurso, mas tem de o fazer de forma assertiva e sem criar a sensação que quer oferecer tudo a todos para vencer as eleições. O PSD tem de ter um discurso para os jovens e para o futuro de Portugal, mesmo sabendo que para ganhar as eleições tem de conquistar os pensionistas; tem de mostrar um caminho diferente do atual, em que os jovens têm como única expetativa emigrar depois de concluírem a sua formação; tem de ter ideias para uma economia, em que para além das boas contas, aproveite o talento e as qualificações das novas gerações; tem de fazer os portugueses acreditarem no futuro… Para já, o rasgo está preso ao passado…
2. No distrito da Guarda, o PS deve repetir a lista das últimas legislativas, com Ana Mendes Godinho, António Monteirinho e Cristina Sousa como os três primeiros nomes da candidatura às eleições de 10 de março. A instalação na Guarda do Comando da UEPS ou do Centro Europeu de Competências para a Economia Social podem não ser muito, mas são bons argumentos eleitorais no distrito. Os investimentos previstos no Porto Seco, na ULS (nomeadamente a requalificação do “Pavilhão 5” do Hospital da Guarda) e o processo de requalificação do Hotel Turismo (cuja transformação em pousada deverá dar os primeiros passos em breve) serão outras bandeiras. A reativação da Linha do Douro até Barca d’Alva continua adiada, o atraso na reabertura da Linha da Beira Alta e essencialmente os problemas da saúde ou a desqualificação do hospital da Guarda serão alguns dos pontos negros da governação socialista na região.
3. Rui Ventura é o primeiro nome da lista de candidatos às legislativas que a Distrital do PSD enviou para a direção nacional do partido. E precisamente duas semanas depois de revelados os nomes, sabe-se que o ainda presidente da Câmara de Pinhel está indiciado pelo Ministério Público (MP) de 31 crimes de peculato. A acusação de utilização abusiva do cartão de crédito e de viatura da autarquia por parte do MP cai como uma bomba no período de preparação do processo eleitoral pelo PSD. E deixa a putativa candidatura social-democrata numa situação delicada – os nomes seguintes da lista são Dulcineia Moura e Carlos Peixoto. Depois da autoexclusão do atual deputado e presidente da Junta de Freguesia da Guarda, João Prata, que não terá gostado de ver o seu nome desclassificado para quarto lugar da lista, depois da concelhia da Guarda não o ter subscrito, a acusação a Rui Ventura poderá criar problemas numa candidatura que parecia definida. E onde havia algum otimismo com a possibilidade (improvável) de eleição de um segundo deputado (para o que deveriam contribuir os votos do CDS – em 2021 foram 1.699).