Os últimos dias foram marcantes para a metamorfose da região. Da arte urbana na Covilhã, onde o Wool impôs um roteiro de arte urbana, determinante para a candidatura à UNESCO em design como Cidade Criativa (e também relevante para a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura); ao Altitudo, Festival Gastronómico da Guarda, com mais de 20 chefes a cozinhar nas imediações da Sé Catedral (seis estrela Michelin de cinco chefes de referência mundial – entre eles Ricardo Costa, chefe do The Yeatman, um dos sete chefes com duas estrelas em Portugal); passando pela gala de entrega dos prémios do Concurso de Vinhos da Beira Interior, em Pinhel.
Três eventos que, por si só, não precisavam de mais explicações para exibir com vaidade a excelência do que por cá se faz. Podíamos incluir outros, muitos, elementos essenciais no dinamismo que na região alguns vão imprimindo para contrariarem as dificuldades que a interioridade, o despovoamento e a desertificação nos vão impondo. Podíamos falar de Castelo Branco – Região Europeia do Empreendedorismo, da programação cultural, da vitalidade do Museu do Côa, dos vinhos do Douro Superior ou do Dão, da natureza, dos muitos recantos de água fresca e transparente, do silêncio (que é de ouro), da Serra da Estrela, dos sabores, do queijo, da energia com que tantos traçam um novo futuro para a região como se não houvesse pandemia ou dificuldades de contexto que nos impedissem de progredir, de caminhar, de contrariar as “pedradas” que há séculos nos atiram do Terreiro do Paço. Tudo isto e muito mais é o que fazemos para resistir e dar futuro às novas gerações.
Ser resiliente é a vocação de quem cá vive.
Mas como podemos acreditar no futuro no interior quando as administrações centrais nos tratam com desdém?
Numa região com tantas falhas e dificuldades, a saúde é uma das maiores preocupações de todos. Aliás, podemos falar de todo o género de medidas em prol da coesão territorial e da fixação de pessoas nos territórios de baixa densidade, mas se não houver bons serviços de saúde ninguém vem para o interior, ninguém pode ficar no interior. Por isso, e a montante de qualquer outra estratégia de desenvolvimento ou apoio à deslocalização e descentralização, é preciso assegurar valências, especialidades médicas e investimento nos hospitais que garantam qualidade de cuidados de saúde.
O concurso de vagas, lançado pela Administração Central do Sistema de Saúde, contraria, precisamente, tudo o que se tem apregoado. Com sete vagas para a ULS da Guarda, cinco vagas para o Centro Hospitalar da Cova da Beira (Covilhã) e outras sete para a ULS de Castelo Branco, é pôr em causa o futuro de valências e serviços e é votar ao abandono as 400 mil pessoas que vivem nos distritos da Guarda e Castelo Branco. Não é apenas um caminho inaceitável do Ministério da Saúde, é uma responsabilidade do primeiro-ministro que prometeu em 2019, na Guarda, um grande investimento na Saúde, nomeadamente com a construção da segunda fase do Hospital Sousa Martins (Pavilhão 5), «porque queremos que quem cá viva, tenha tão boas condições de vida aqui como quem vive nos grandes centros urbanos do litoral, é que nós assumimos o compromisso de descongelar a segunda fase do hospital da Guarda e arrancar com essa obra que é fundamental para o futuro desta cidade (António Costa, 07/09/2019). Não queremos secretarias de Estado sem qualquer relevância, para darem emprego a meia dúzia de militantes do partido, queremos investimentos estruturantes e sustentáveis, queremos equipamentos e serviços de qualidade, queremos descentralização e desconcentração de serviços por uma questão de justiça e igualdade. E queremos uma saúde de qualidade e proximidade a que constitucionalmente todos temos direito.