Na semana passada, o ministro Pedro Nuno Santos, a versão lusitana de Iznogoud, o pequeno vizir que queria ser califa no lugar do califa, proferiu a seguinte frase: «O orçamento não é fraude política, podemos é falhar a executar com o que nos comprometemos».
Iznogoud Santos introduz na sociedade portuguesa uma linha de argumentação rica em possibilidades e com grande permeabilidade para situações da vida quotidiana. Sempre atenta às transformações semânticas e pragmáticas da comunicação (e nunca às alterações parvas de grafia), esta coluna ilustra o seu venerável público (olá aos quatro) com variações ao tema.
«O plágio não é uma fraude académica, podemos é falhar a escrever com aquilo que sabemos».
«O sexo ocasional não é uma fraude conjugal, podemos é trair o cônjuge com pessoas que encontrarmos».
«O Chagas Freitas não é uma fraude literária, podemos é falhar a encontrar alguma coisa que gostemos».
«O campeonato não é uma fraude desportiva, podemos é falhar a marcar faltas e foras-de-jogo contra clubes dirigidos por Vieiras».
«A saúde não é uma fraude nacional, podemos é falhar a tratar aquilo com que vivemos».
«Portugal não é uma fraude europeia, podemos é falhar a conseguir aquilo com que sonhámos».
«O Observatório de Ornitorrincos não é uma fraude jornalística, podemos é falhar a perceber alguma coisa com que nos rirmos».
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia