Há um ano o problema era o excesso de turistas. O alojamento local afastava os cidadãos do centro das cidades em troca de mais lugar para turistas, os “tuk-tuk” enxameavam as ruas e o português, nalgumas zonas, parecia uma língua de minorias. A exposição portuguesa ao turismo parecia excessiva, mas vinha dali uma parte importante do PIB. O reconhecimento das nossas vantagens nesse campo era generalizado e apreciava-se a segurança, a gastronomia, o bom tempo, o nosso bom feitio.
Esse problema já não existe. Há hotéis que fecharam durante a fase pior da pandemia e não reabriram com o desconfinamento. O mesmo aconteceu com muitos alojamentos locais, abrindo-se outra vez o caminho ao mercado de arrendamento, e muitos restaurantes. Sucedem-se os despedimentos coletivos e as insolvências. É verdade que apareceu muito crédito barato, com facilitação de garantias e períodos alargados de carência, mas nada parece restaurar a confiança dos industriais da hotelaria e, sobretudo, da clientela.
O problema foi e vai ser a mudança de comportamentos trazida pela pandemia, que nos tornou a todos muito sensíveis aos espaços fechados dos hotéis e dos restaurantes e muito tementes da presença dos outros. Espetáculos, ruas apinhadas, praias cheias e, por exemplo, o metropolitano de Lisboa passaram a ser sítios de que se foge. A recente informação de que a simples respiração de alguém doente é suficiente para a transmissão do coronavírus, mesmo sem espirrar ou tossir, parece suficiente para destruir o que restava dos nossos antigos hábitos e exacerbar os novos terrores.
Depois virá o outono e o frio. Sairemos da rua para os espaços fechados das casas, das escolas e das empresas, com riscos acrescidos de contaminação, mas não para os dos hotéis e dos restaurantes. Este ano, perdido até agora para a indústria, em que fomos excluídos dos “corredores turísticos” dos ingleses e de outros, vai prolongar-se por um inverno destrutivo do que resta. Os preços não têm descido tanto assim, como já repararam, e isso é prova de como as coisas estão mal. É que fecharam tantas unidades turísticas que mesmo com procura diminuída não há razão para os preços baixarem.
Um dia chegará a vacina e a imunidade de grupo, mesmo que à custa da disseminação generalizada da doença. Tenho dúvidas sobre o regresso dos antigos hábitos e sobre a recuperação do turismo como um componente decisivo da nossa economia. Resta saber como substituir as empresas e os postos de trabalho destruídos.