Portugal é hoje um país com dinamismo cultural, com atividades e infraestruturas presentes em todo o território e não apenas no litoral onde se concentra a maioria da população. Esta é a realidade identificada pelo novo “Atlas Artístico e Cultural de Portugal”, um projeto desenvolvido pelo Observatório Português das Atividades Culturais – OPAC, uma unidade de investigação e estudos do ISCTE, em parceria com a DGArtes – Direção-Geral das Artes (do qual o diretor-geral é o guardense Américo Rodrigues).
O retrato cultural compilado contradiz a ideia de que a produção cultural do país está centralizada em Lisboa e Porto. «Não há desertos culturais em Portugal», conclui José Soares Neves, investigador do ISCTE, diretor do OPAC e o coordenador deste Atlas lançado em Lisboa a 27 de setembro. Segundo José Soares Neves, «o Atlas revela que, apesar dos desequilíbrios históricos entre litoral e interior, ou entre áreas urbanas e rurais, o panorama cultural português é rico e diversificado». Eventos e equipamentos culturais como bibliotecas, museus, salas de espetáculos e arquivos estão presentes na grande parte dos municípios portugueses, incluindo nas regiões mais remotas.
A boa notícia é, também, que os dados culturais revelam uma distribuição mais equilibrada de equipamentos, agentes e eventos culturais do que se supunha. Na verdade, há polos de cultura ativos em várias regiões, tanto no litoral quanto no interior.
O Atlas identifica, no entanto, 76 municípios com baixa densidade cultural, a maioria dos quais tem também níveis populacionais e económicos baixos. Para responder ao problema destes concelhos, o OPAC e a DGArtes formaram em 2022 uma parceria destinada a apoiar o aumento de produção cultural nesses territórios: a parceria chama-se Arte e Coesão Territorial, foi dotada com um milhão de euros e lançou em 2023 concursos a que as Câmaras Municipais puderam candidatar-se. Estão agora a ser apoiados projetos em 34 destes concelhos.
É, pois, uma boa ocasião para nos congratularmos pelo caminho que Portugal tem feito para a igualdade de condições de acesso à cultura, independentemente do local de residência. Pena é que alguns locais, como a Guarda, a que, felizmente, não falta nem população nem jovens, tenha visto a sua programação cultural degradar-se nos últimos anos por uma gestão autárquica provinciana, para não dizer parola… Mas o que se há de dizer de quem recusa 800 mil euros da DGArtes, como Sérgio Costa, por não gostar da programação então prevista para o Teatro Municipal da Guarda?
* Presidente do Conselho Distrital da SEDES Guarda