Mortalidade, esperança de vida e interior – Quantos anos vivem os portugueses no País?

A esperança média de vida à nascença continua a ser superior para as mulheres, mas os homens estão a ganhar terreno. E segundo o INE, é no Norte e Centro que se vive durante mais tempo, 81.18 e 81.11 anos, respetivamente. Entretanto na Região Centro a esperança média de vida é relativamente próxima nas outras regiões. Nesta publicação recente o INE não disponibiliza dados para concelhos.

No Norte e Centro do país os portugueses vivem, em média, mais de 81 anos (81,18 e 81.18 anos, respetivamente). Por sua vez na Madeira, Açores e Baixo Alentejo, a esperança média de vida não chega a atingir os 79 anos. De acordo com os dados divulgados, recentemente (26/9) pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), no triénio 2016 – 2018, a expectativa de vida média em Portugal subiu 0,02 pontos percentuais (p. p.), menos de um mês, atingindo os 80,80 anos. A esperança média de vida à nascença em Portugal para homens e mulheres no seu conjunto é de 80,80 anos para o total da população, mas os homens vivem menos alguns anos que as mulheres, 77,78 anos para os homens e de 83,43 anos para as mulheres, isto no triénio 2016-2018. Embora a esperança média de vida continue a ser superior para as mulheres, os homens têm vindo a ganhar terreno, sendo agora a diferença de 5,65 anos, enquanto oito anos antes era de 6,02 anos no triénio 2008 – 2010.

Ainda segundo o INE, por outro lado, é no Norte que se verificam os valores mais elevados de expectativa de vida (81,18 anos), logo seguido do Centro (81,11 anos) e da área metropolitana de Lisboa (80,94 anos). Por sua vez, é nos Açores, na Madeira e no Algarve que se vive menos tempo, 77.85, 78.3 e 79.93 anos, respetivamente. O Algarve foi mesmo a única região do país onde a esperança média de vida registada entre 2016 e 2018 recuou face ao que tinha sido registado no triénio anterior, 2015 a 2017.
Há apenas sete regiões do país em que se registaram valores de esperança média de vida à nascença acima de 81 anos, as sub-regiões do Cávado, de Leiria, de Coimbra, de Viseu-Dão-Lafões, do vale do Ave, da Área metropolitana do Porto e de Aveiro. Como era de esperar as menores esperanças médias de vida verificaram-se nos Açores, na Madeira e no Baixo Alentejo, onde a expectativa ficou abaixo dos 79 anos.
Nos últimos oito anos, todas as sub-regiões ou NUTS III do país registaram ganhos de longevidade à nascença, verificando-se o maior acréscimo na região de Leiria (2,34 anos) e o menor na região de Trás-os-Montes (0,68 anos). Contudo, as estimativas relativas à esperança de vida à nascença mostram que em nove das 25 sub-regiões ou NUTS III foi superado o valor nacional (80,80 anos) no triénio 2016-2018.

Por sub-regiões da Região Centro é Leiria que tem a maior longevidade em 2016/18, 81.5 anos, seguida de Coimbra, 81.47, e Aveiro, 81.09. Em 2016/18 as sub-regiões da Beira Baixa (79.93 anos) e a das Beiras e Serra da Estrela, BSE, (80,61), que cobrem a Beira Interior, apresentaram longevidades ligeiramente inferiores, às da Região Centro (81.11). Destas sub-regiões é a Beira Baixa a que tem pior esperança de vida à nascença em todo o Centro com 79.93 anos (-1.18 anos abaixo da média do Centro) seguida do Oeste com 80.26 anos (-0.85 face ao Centro). Por sua vez as BSE apresentaram -0.5 anos em média face à Região sedeada em Coimbra, Região Centro. O Médio Tejo está praticamente ao nível das B. S. Estrela (80.72), com +0.11 anos.

Legenda: série 1: 2008/10; série 2: 2016/18

Se falarmos agora da esperança média de vida aos sessenta e cinco anos, isto é, do número de anos que se espera viver após ter atingido os 65 anos de idade, verificamos que no Centro em geral ela é de 19,75 anos. Por sua vez, na sub-região da Beira Baixa é de19,80 anos e nas Beiras e Serra da Estrela é de 19,98, ambas acima da média da Região Centro. Ainda nesta região Centro a sub-região de Coimbra, com 20,13 anos, é a que apresenta maior esperança média de vida aos 65 anos. Segue-se depois a sub-região de Leiria, com 20,10 anos, a segunda maior. As restantes sub-regiões tomam valores sempre abaixo destes: Oeste,18,93, Região de Aveiro,19,85, Viseu Dão Lafões, 19,87 e Médio Tejo, 19,95.

De 2008/10 para 2016/18 a esperança média de vida na Região Centro aumentou 1.52 anos. Mas a sub-região de Leiria cresceu 2.34, a Beira Baixa cresceu 2.21 anos, a sub-região de Coimbra 1.60 e as Beiras Serra da Estrela 1.50 anos. As restantes sub-regiões tiveram subidas ligeiramente abaixo da média do Centro: Oeste, 1,47, Região de Aveiro, 1,45, Viseu Dão Lafões, 1,46, Médio Tejo, 1,25.
Também entre os dois triénios referidos, 2008/10 e 2016/18, a esperança de vida aos 65 anos aumentou 1.12 anos na R. Centro, mas aumentou mais na sub-regiões de Leiria, 1.44 anos, na de Coimbra 1.30, e das B. S. Estrela 1.17; na Beira Baixa aumentou apenas 0.82 anos, mesmo assim mais do que em Viseu-Dão-Lafões (0.79). As restantes nuts do Centro também aumentaram como se vê em seguida: Oeste, 1,15, Região de Aveiro, 0,85, e Médio Tejo, 0,99. O respetivo gráfico mostra isso mesmo. As regiões que tiveram menores acréscimos foram Dão-Lafões, Beira Baixa e Aveiro.

Para terminar dizer apenas que, infelizmente, a estatística agora publicada pelo INE nada diz ao nível dos concelhos do país o que era fundamental para se poder ajuizar melhor como vão as esperanças médias de vida à nascença e aos sessenta e cinco anos, e como têm evoluído estes mesmos indicadores demográficos entre estes dois triénios (2008-10 e 2016-18). Estes elementos são básicos e essenciais para se poder aquilatar da ‘qualidade de vida’ dos naturais e residentes nos concelhos do país e também para nos ajudar a distinguir melhor se é nos grandes centros do Litoral ou nos pequenos centros do Interior (concelhos) que esses níveis ‘qualitativos’ de vida ou de bem-estar são mais elevados. Esperemos que o INE venha a corrigir essa lacuna num futuro próximo e em próxima publicação. O País agradece.

* Prof Catedrático. Responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social. Universidade da Beira Interior.

Sobre o autor

José Ramos Pires Manso

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