Mobilidade urbana

Uma das muitas consequências da pandemia do novo coronavírus será a da mobilidade. E em especial da mobilidade urbana.

Uma das muitas consequências da pandemia do novo coronavírus será a da mobilidade. E em especial da mobilidade urbana. O medo vai levar a que cada vez mais pessoas recorram ao transporte próprio e a evitar o transporte coletivo, pois, por muitos cuidados de limpeza que sejam implementados, haverá sempre receios e será impossível haver distanciamento físico que assegure viagens tranquilas. Assim, entre as muitas urgências e medidas que o Covid-19 irá imprimir no “novo-normal” encontraremos as mudanças na mobilidade.
Sendo certo que o teletrabalho veio para ficar e otimisticamente muitos acreditam que haverá um pequeno êxodo de pessoas das grandes cidades para o campo… Com o regresso da “normalidade” vai haver novas dificuldades nos transportes coletivos e a vida nas maiores urbes será ainda mais complicada. A dependência do carro vai ser maior e a capacidade e imaginação dos decisores públicos será determinante para melhorar a vida do cidadão.
As cidades têm de ter mais vias com espaço qualificado para meios alternativos, da bicicleta à trotinete elétricas, e novos transportes coletivos que permitam rapidez, menor lotação e sustentabilidade ambiental. É obrigatório também melhorar a mobilidade urbana pedonal, com passeios mais largos e zonas de estacionamento bem aproveitadas. Ao longo dos 20 anos deste jornal muitas foram as vezes que aqui defendemos a requalificação, nomeadamente no centro urbano da Guarda (com a colaboração de desenhos e argumentos descritivos de vários arquitetos, como Cláudia Quelhas, João Cláudio Madalena ou Salette Marque, entre outros) seguindo precisamente o conceito de cidade para as pessoas. Mas a mobilidade depende do automóvel. E, como dizem os americanos, “no parking, no business”, ou seja, matámos os centros das cidades e empurrámos os consumidores para os centros comerciais e hipermercados nos arrabaldes por eliminarmos o estacionamento no centro da cidade sem criarmos alternativas. Defendemos para a Guarda o estacionamento subterrâneo no Jardim José de Lemos e não temos dúvidas de que muito mais importante do que “requalificar” o largo frente à Igreja da Misericórdia (praça de táxis), como pretendia o anterior presidente da Câmara, será a promoção que deverá ser implementada em breve de vias de sentido único (ascendente do Jardim José de Lemos à Misericórdia e descendente pela Torre dos Ferreiros e Largo S. João (onde ficaria muito bem um siloauto), com passeios largos e espaço para as pessoas.
Por outro lado, e considerando o relevo íngreme, escrevi aqui há 20 anos que os guardenses não podiam continuar a ir ao mercado a pé ou de carro, a autarquia deveria ter construído um elevador ou “escadas rolantes” entre o mercado e o Jardim José de Lemos, que permitissem a mobilidade fácil aos cidadãos, mas também aos que chegam à central de camionagem (nomeadamente os estudantes que vêm de fora e carregam a mala encosta acima). Mas os sistemas mecânicos que melhorem a mobilidade dos peões podem ser implementados em outras partes da cidade (as pessoas que diariamente têm de subir do “bairro da caixa” para o centro da cidade mereciam mais atenção e consideração).
Há 20 anos, quando foram lançados os projetos de requalificação urbana da Guarda, no âmbito do programa Polis (e já antes refletidos no Plano Estratégico da Cidade da Guarda), que prometeu «uma cidade nova», e que gastou milhões mas para a posteridade deixou “apenas” o parque urbano do Rio Diz, foram sugeridas várias possibilidades, e chegou mesmo a apresentar-se o projeto do “monorail” para ligar a parte alta da cidade à Estação. Infelizmente, o projeto mereceu muita conversa, mas pouco apoio – é verdade que seria muito caro, mas o dinheiro gastou-se sem nada ser feito por essa «nova cidade». O tempo passou, mas agora, de novo, para construirmos essa nova cidade, é preciso promover uma nova mobilidade, com a construção de sistemas mecânicos que permitam as pessoas ascenderem das zonas baixas ao centro, reduzindo a dependência do automóvel, mas também promovendo uma cidade mais sustentável, com mais via cicláveis, mais transporte público e mais espaços de lazer (a encosta do Rio Diz).

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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