Mil e tantos militantes

“No livro, o autor conta como o regime soviético começou por defender as autonomias das repúblicas para depois as reprimir. “

No último fim-de-semana, ao mesmo tempo que terminava a leitura de “Escolhi a Liberdade”, um volume recheado de memórias pessoais e políticas detalhadas de Victor Kravchenko, um dissidente soviético, decorria lá mais para o Sul a festa do “Avante”, organizada pelo Partido Comunista Português, um resistente soviético.
No livro, Kravchenko mostra à exaustão como o regime soviético era cruel, desumano, totalitário, mas era também um amontoado de absurdos. Na festa, o PCP mostra à exaustão como o seu enlevo com um regime cruel, desumano e totalitário é construído em cima de absurdos.
No livro, o autor conta como o regime soviético começou por defender as autonomias das repúblicas para depois as reprimir. Na festa, um deputado do Partido Comunista da Bielorrússia defendeu a união dos povos irmãos numa nova URSS. Não tendo explicado o método a usar para ir buscar os maninhos mais afastados, não será necessária muita imaginação para adivinhar as intenções.
No livro, o alto funcionário do Partido Comunista da União Soviética explica detalhadamente os pactos e acordos económicos, industriais e militares feitos entre Hitler e Estaline, antes do primeiro virar o bico ao prego e invadir a URSS. Na festa, culpou-se o declínio do capitalismo pela guerra na Ucrânia. Num sentido marxista da História, o PCP não deveria estar preocupado com esse declínio, já que segundo Marx, ao capitalismo, que implodiria por si, seguir-se-iam o socialismo e o comunismo.
É por o PCP achar que o declínio do capitalismo leva à guerra e por Kravchenko nos ter contado que a construção do comunismo leva à miséria e à tortura, que o melhor a fazer é proteger o capitalismo e as liberdades.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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