Os micróbios são os nossos antepassados, os nossos vizinhos e os nossos aliados, mas também os nossos piores inimigos. Influenciaram, e vão continuar a influenciar de forma radical, o curso da história. Apesar de não se conseguir sobreviver sem eles, são também assassinos que põem fim a milhões de vidas todos os anos. Devido aos avanços da medicina, principalmente sob a forma de vacinas e antibióticos, ficamos com a perceção de já termos ganho a guerra contra os micróbios, mas nada está mais longe da verdade.
Um micróbio é uma forma de vida microscópica. Existem os micróbios “bons” (que nos ajudam) e “maus” (que causam doenças). O vírus é o micróbio mais pequeno que existe, sendo constituído por pouco mais de alguns genes e por um invólucro.
Temos todos os mesmos micróbios?
As bactérias que colonizam os nossos corpos, aquilo a que se chama microbioma, formam uma comunidade específica para cada pessoa. Podem considerar-se como uma espécie de “impressão digital” pessoal e intransmissível. De facto, está a ser estudada a possibilidade de analisar o rasto de bactérias que deixamos para investigar criminosos. Apenas pelo facto de se entrar numa divisão ou de se tocar num objeto, transferem-se centenas de micróbios, que depois se podem analisar observando o seu material genético. Além disso, pairando à nossa volta, há uma nuvem de micróbios que também é praticamente única para cada pessoa. Em espaços onde as pessoas se amontoam, por exemplo, no metro ou num concerto, estas nuvens interagem e produz-se uma troca de bactérias, mesmo que as pessoas não se toquem.
Conhecemos todos os micróbios que existem?
Nem pouco mais ou menos. De momento, só foi possível catalogar uma pequena fração. Muitos deles vivem em zonas pouco acessíveis, como o fundo do mar, enterrados sob metros de terra (calcula-se que só para juntar todos os micróbios que ali existem seria necessário escrever um 3 seguido de 29 zeros). Por outro lado, devido ao aquecimento global e ao degelo provocado nos polos, estão a ressurgir bactérias que estavam há séculos suspensas nos glaciares. Algumas delas não foram vistas desde o Pleistoceno, há 750.000 anos. Embora na sua maioria estejam mortas, algumas conseguiram “ressuscitar” e acrescentaram-se à lista de bactérias conhecidas.
Quais são os piores micróbios que existem?
Em finais de 2015, a Organização Mundial de Saúde divulgou uma lista dos micróbios com maior risco de criarem uma pandemia ou epidemia de grande extensão. Segundo a mesma, as oito doenças infeciosas mais temíveis atualmente são: ébola, Marburgo, SARS, MERS, nipah, febre de Lassa, febre do vale do Rift e febre hemorrágica do Congo-Crimeia. São todas provocadas por vírus muito agressivos que causam uma elevada mortalidade, sem vacinas ou tratamentos conhecidos, o que faz com que os surtos sejam muito difíceis de controlar. É provável que, no futuro, mais micróbios sejam acrescentados à lista, principalmente outros vírus causadores de febres hemorrágicas, que são as mais perigosas que se conhecem.
Maria Tifoide
Uma das epidemias mais curiosas que se conhece foi a de febre tifoide (uma doença causada pela bactéria Salmonella thyphi, que se transmite através dos alimentos ou de águas contaminadas) que a cidade de Nova Iorque sofreu em princípios do século XX. Foi causada por uma única pessoa: Mary Mallon (1869-1939), que passou à história com o nome de Maria Tifoide. Embora nunca tenha ficado doente, Mary era uma espécie de epidemia ambulante: contagiou 53 pessoas ao longo da sua vida, mas negou sempre que fosse culpa dela. Ainda mais grave foi o facto de nunca ter querido deixar o seu trabalho de cozinheira, apesar da grande probabilidade de vir a infetar a comida que preparava. Pensa-se que Mary possa já ter nascido com a infeção, visto que a sua mãe sofrera dela quando estava grávida, pelo que estava protegida e era apenas portadora.