Meses e mezinhas

«Para quem apanhou 22 graus abaixo de zero em Fevereiro, este mês devia levar uma chapada por ser mentiroso»

Na maior parte das línguas europeias, os meses do ano têm nomes muito semelhantes, por terem a mesma origem na cultura latina. Este mês de Junho é Junio em espanhol, June em inglês, Juin em francês, Juni em alemão, “yiyun” em russo, ou mesmo Jūnijs em letão, o outro idioma báltico que sobreviveu.
Em lituano, os nomes dos meses são mais uma das pequenas coisas para manter os estrangeiros à toa. Aqui, estamos em pleno birželis (em que “ž” se lê “j” como em Junho e o “že” é a sílaba tónica). Evidentemente, este mês é birželis porque é o mês de beržas, bétulas em lituano. Além disso, os lituanos borrifaram-se para solstícios e equinócios, e consideram que o Verão começa logo no primeiro dia deste birželis. Os meus caros leitores ainda estão em luta com as alergias da Primavera, enquanto eu já gozo os prazeres do Verão.
O resto dos meses tem as mesmas raízes, por assim dizer, na natureza. Por ordem, sausis, é o mês seco, por causa da neve seca e da água congelada. Vasaris deriva da palavra vasara, que significa literalmente Verão. Para quem apanhou 22 graus abaixo de zero em Fevereiro, este mês devia levar uma chapada por ser mentiroso. Depois vem kovas, o mês da gralha, balandis, o mês do pombo, e gegužė, o mês do cuco.
Agora estamos em birželis, depois vem liepa, o mês das tílias. Agosto é rugpjūtis e Setembro, rugsėjis. Têm a mesma raiz, porque rugiai é centeio, e estes são os meses de colher e semear o centeio. Seguem-se spalis, da palavra spaliai, o tratamento dado à planta do linho, e lapkritis, junção de lapas (folha) e kristi (cair). Finalmente, o ano acaba em gruodis, o mês em que a lama outonal se transforma em pedaços de terra congelada – gruodas.
Resumindo, os meses de Inverno são advertências climatéricas, a Primavera é sobre passarada, e o Verão é para lembrar que enquanto os burgueses estão de férias, há trabalho no campo para fazer. Como o Império Russo proibiu publicações em lituano durante a segunda metade do século XIX, em vez de fazerem um Almanaque Borda d’Água, os lituanos puseram as instruções no calendário.

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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