Melo, Aldeia Literária

“A “Casa Vergílio Ferreira” promete ser muito mais do que um local de memória, promete ser um ponto de encontro de cultura, de literatura e de escritores”

O Presidente da República esteve no distrito da Guarda na passada quinta-feira para inaugurar a “Casa Vergílio Ferreira – Para Sempre”, que foi residência do escritor Vergílio Ferreira. Marcelo Rebelo de Sousa apadrinhou a abertura da antiga Vila Josephine e foi o protagonista da terceira edição do Festival Literário “Em Nome da Terra”, com conversas com escritores, apresentações de livros, exposições e música.
A “Casa Vergílio Ferreira” promete ser muito mais do que um local de memória, promete ser um ponto de encontro de cultura, de literatura e de escritores. Se homenagear o autor de “Estrela Polar”, “Aparição” ou “Manhã Submersa” e permitir às gerações vindouras conhecerem melhor o escritor eram motivos mais do que suficientes para o Presidente da República vir a Melo, Gouveia, a proposta de “Em Nome da Terra” ou a aspiração da “Casa” (ou da Câmara Municipal de Gouveia) vai muito para além da relevância do momento: quer ser um polo dinamizador de cultura e “um lugar literário” – ainda bem, não basta celebrar a obra e a memória do romancista natural de Melo, é preciso levar vida “Onde Tudo Foi Morrendo” (título do segundo livro de Vergílio Ferreira). E convidar escritores é uma extraordinária forma de atrair visitantes, promovendo o turismo literário e cultural, mas também perpetuar a “inspiração” virgiliana e colocar a natureza e a paisagem serrana na origem criadora de futuras obras literárias – e nada é mais perene do que a literatura…
“O Caminho fica Longe” (título da primeira obra do escritor), mas, como Lídia Jorge enfatizou, Melo poderá ser a tal “Esplanada Sobre o Mar” que Vergílio Ferreira celebrou, o local inspirador de jovens escritores que, por entre a paisagem natural, podem “ver” o mar, viver a literatura e caminhar entre as árvores e as letras. A porta fica aberta em nome da terra.
Se a Câmara de Gouveia apostar seriamente em Melo, como “um lugar literário”, se mantiver e promover a ideia de polo dinamizador, se convidar artistas, escritores e jornalistas para ali fazerem exposições, residências artísticas, conversas, debates ou outras formas de intervenção cultural, muito para além do festival literário, esta será uma vila com futuro, muito futuro, porque só a cultura pode promover metamorfoses.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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