Mausoléu da recusa

Escrito por Diogo Cabrita

“Obrigado mãe por não fazeres o que te dizem, só porque sim! Vem isto a propósito do mausoléu pela recusa que quero levantar em frente da Assembleia da República com os nomes de todas as mulheres que nos anos 60 recusaram tomar a talidomida!”

Em 1961, os médicos ofereceram à minha mãe a talidomida e ela não tomou e os filhos dela não sofreram problemas teratogénicos. A recusa da minha mãe é uma alegria maior que o meu nascimento. Em 1961 nasci escorreito porque a minha mãe recusou tomar os comprimidos que estavam na receita do médico. A recusa não era “negacionista”, era uma intuição. Para quê, se estou bem? Porquê se nunca foi preciso antes? Vou repetir para muitos cegos, surdos e crentes até ao absurdo. Em 1961 a ciência recomendou à minha mãe que tomasse talidomida e por razões nada científicas ela recusou. Obrigado mãe! Talvez não tenham entendido ainda: Em 1961 os cientistas estavam quase a chegar à Lua, a ciência estava a distribuir conforto, qualidade de vida era a melhor de sempre na Europa e a minha mãe recusou tomar uma sugestão médica. A Fernanda era “negacionista” e por essa razão eu não tenho alterações nos membros, problemas intelectuais, e nasci inteirinho e escorreito como os meus manos todos. Obrigado mãe por não fazeres o que te dizem, só porque sim! Vem isto a propósito do mausoléu pela recusa que quero levantar em frente da Assembleia da República com os nomes de todas as mulheres que nos anos 60 recusaram tomar a talidomida!

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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