Maquiavel e o Príncipe!

Escrito por Júlio Sarmento

São muitos os valores, legados da nossa tradição ocidental, em que se pensa muito por força das circunstâncias, mas de que os políticos nos falam pouco.
Falam-nos muito de outros, por força da conveniência, mas em que se pensa menos. O primado da Lei, o respeito pelos direitos, o valor da liberdade e da paz são legados em que todos falam. Os valores inerentes aos deveres, a fidelidade aos compromissos, o respeito pelas instituições, são legados da nossa matriz cultural de que nos falam pouco.
Todos os dias se multiplicam exemplos de que esses legados andam afastados do pensamento e da ação política. Tudo muito equívoco no domínio dos princípios, mas muito coerente no domínio dos interesses. É a velha tradição maquiavélica a ajudar os novos príncipes, que não se embaraçam com a ética na satisfação dos seus interesses.
A preocupação está sempre presente na estética, na compostura, na imagem, na foto, no momento mediático, na palavra fácil e na promessa deferida no tempo. Não há problemas de consciência ética, tão só de eficácia. O poder usado em benefício de quem o tem. Sem missão que o transcenda, vive da oportunidade e da conveniência.
Onde está o poder o legado de Maquiavel campeia desassombrado, pondo e dispondo. Sem princípios, o poder está sempre na sua casa.
Assim os novos príncipes sentem-se desinibidos para se libertarem de todos os compromissos éticos, cuidam dos seus interesses pessoais e já sem pudor, também dos da família, como se a coisa pública lhes pertencesse, por direito.
Tudo isto é do foro da amorosidade sem nenhuma ligação necessária com a política e o Estado.

* Antigo presidente da Câmara de Trancoso, ex-líder da Distrital da Guarda do PSD e presidente da mesa da Assembleia Distrital do PSD

Sobre o autor

Júlio Sarmento

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